Título: Crédito é a aposta do Intercap para crescer
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2007, Finanças, p. C10

Alfredo Moraes, 49 anos, uma das mais conhecidas lideranças do mercado financeiro brasileiro, presidente reeleito da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro), acaba de deixar o banco ABC após 16 anos de casa. Resolveu aceitar o desafio de ajudar a crescer e ampliar a rentabilidade do Banco Intercap, do grupo Nova América, dono do açúcar União, marca líder no varejo brasileiro. O grupo, controlado pela família Rezende Barbosa, registrou pedido para abertura de capital na Comissão de Valores Mobiliários e tem planos ambiciosos de expansão no país.

O Banco Intercap faz parte deles. Moraes foi chamado para ajudar a promover uma guinada na instituição financeira para o fornecimento de crédito às médias e pequenas empresas e, no futuro, também para o fornecimento de crédito aos clientes dessas empresas clientes.

Hoje, da carteira de ativos de R$ 200 milhões da instituição, a maioria é crédito a bancos - Certificados de Depósitos Bancários e cessão de crédito com coobrigação, aquela de menor risco e retorno, em que quem vendeu a carteira continua 100% responsável por uma eventual inadimplência.

Moraes pretende aumentar a rentabilidade dos ativos do banco lentamente. Inicialmente, até o final deste ano, pretende transformar a carteira em créditos de empresas médias, para depois buscar as empresas menores e até os clientes dessas empresas menores, diversificando mais o risco, processo que pretende ter completo em cerca de dois anos. A idéia é financiar inclusive fornecedores e clientes do grupo Nova América, no processo chamado de financiamento da cadeia produtiva, aproveitando o conhecimento que o grupo tem dessas empresas. Os fornecedores da matéria-prima para as usinas de açúcar e álcool do grupo, além de outras empresas médias, terão crédito tradicional, por meio de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs).

O Intercap pretende também lançar cartões de crédito. Além dos tradicionais cartões para as pessoas físicas, eles poderão ser uma forma de crédito para os pequenos supermercados e mercearias que compram açúcar União. "Poderemos depois lançar também cartões para os clientes que compram produtos nesses supermercados."

O banco quer ainda operar com câmbio, repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, tesouraria e com a corretora na Bolsa de Mercadorias & Futuros.

O Intercap nasceu em 87, como uma Distribuidora de Valores Mobiliários (DTVM), virou banco em 1990 e hoje tem uma DTVM. Entre suas atividades, o Intercap tem participação no mercado de crédito consignado para o INSS, com ativos de R$ 30 milhões. Atua por meio de parcerias com lojas que fazem consignado para a compra de um produto específico. "Embora não seja nosso foco, é um dos nossos ativos mais rentáveis hoje", afirma Moraes. O Intercap chegou a atuar no financiamento de veículos, mas vendeu o negócio no final de 2004 ao Banco Itaú.

Embora já fosse sócio do ABC, Moraes passou a ter participação maior no Intercap. "É um desafio interessante e novo para mim", diz o executivo. O grupo Nova América tem participação de 52% na instituição financeira. Os outros 48% são divididos entre quatro sócios: além de Moraes, Renato Diniz Junqueira, vice-presidente do conselho da Bolsa de Mercadorias & Futuros, Eduardo Azevedo, da área comercial, e John Francis, o Frank, os dois últimos na instituição financeira desde a sua fundação. Por enquanto, o Intercap tem capital de sobra, segundo Moraes. São R$ 66 milhões, que precisam ser colocados para render. "Hoje o banco tem muito caixa, parte dele aplicado no overnight", conta. O objetivo é ter R$ 300 milhões em ativos em dois anos, com cerca de 200 a 250 clientes ativos e monitoramento de 500 clientes.

Moraes, engenheiro de alimentos com pós-graduação em economia e finanças na FGV, começou sua carreira no Noroeste. Depois, trabalhou no Unibanco, no Norchem, no Itamarati e no ABC. Foi reeleito presidente da para Andima em março para um mandato de mais dois anos.

O grupo Nova América está em expansão e recentemente anunciou investimentos da ordem de R$ 1 bilhão em duas usinas de açúcar e álcool no Mato Grosso do Sul. A companhia quer ampliar seu processamento de cana dos atuais 7 milhões de toneladas para 15 milhões nos próximos dois anos.