Título: Caderneta competitiva
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2007, EU & Investimentos, p. D1

A revisão do cálculo da Taxa Referencial (TR) em março ainda não serviu para melhorar o retorno relativo dos fundos DI em comparação à tradicional aplicação na caderneta de poupança. Em maio, quando as novas regras já começaram a funcionar, 24 fundos DI de varejo entre os 40 com maior patrimônio do mercado apresentaram retorno abaixo da poupança, se considerada a alíquota de imposto de renda de 22,5% sobre o retorno dos fundos. Essa parcela dos fundos perdedores para a caderneta, formada pelos produtos com taxas de administração mais altas, continua elevada à revelia do aumento do fator redutor da TR, que encolhe o ganho da caderneta, determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Por conta dessa eficácia limitada da medida, é esperada que uma nova revisão do retorno da poupança esteja mais próxima do que era prevista anteriormente.

Ao longo de todo o mês de maio, a Taxa Básica Financeira (TBF), índice de juros usado no cálculo da TR, esteve abaixo de 12% ao ano, gatilho que inicia o novo cálculo do retorno e leva a uma rentabilidade menor. Ainda assim, em maio, a caderneta de poupança - isenta de imposto de renda - apresentou retorno de 0,6697%. Entre os 40 fundos DI mais populares, o ganho em maio líquido com um IR de 22,5% variou entre 0,41% e 1,06%. Se considerada a alíquota menor, de 15% de IR sobre o ganho do DI, em vez de 24, caem para 13 os fundos perdedores para a caderneta em maio, ainda entre aqueles 40 mais populares.

"Mesmo os fundos DI com taxas mais altas ganhavam da caderneta de poupança, mas, com a queda recente dos juros, essa situação mudou nos últimos meses", comenta Renato Ramos, diretor de renda fixa da HSBC Investments. Embora o novo corte da Selic na semana passada - para 12% ao ano - possa significar redução maior no retorno da caderneta do que no dos fundos por conta dos novos critérios de cálculo da TR, a tradicional aplicação em poupança ainda é forte competidora dos fundos. "Nesse ritmo, o retorno médio dos fundos de varejo e da caderneta continuam muito próximos", explica André Carvalhal, pesquisador do Instituto Coppead de Administração da UFRJ.

O governo revisou e deverá recalcular o retorno da caderneta para manter a atratividade dos fundos, que adquirem papéis de dívida federal e financiam o governo. A nova norma do CMN, implantada em março, só vale enquanto a TBF estiver acima de 11% ao ano. No entanto, ao longo de maio, antes do último corte da Selic, a taxa já bateu 11,54%, indicando a proximidade de uma nova revisão.

Entre as idéias cogitadas para a revisão do ganho da caderneta está alterar o retorno fixo de 6% ao ano que, somado à TR, dá o rendimento mensal da aplicação. Outra hipótese levantada, mas que teria de ser bastante discutida politicamente, seria cobrar imposto de renda sobre o ganho da caderneta. Por conta dessas possíveis mudanças, Carvalhal diz ao investidor que não desejar migrar para aplicações mais agressivas que observe o volume e o prazo que tem investido para avaliar uma mudança.

Em geral, o retorno do fundo de investimento será tanto melhor quanto maior for o volume aplicado, porque nesse caso tende-se a conseguir taxas de administração menores, diz Carvalhal. A taxa de administração é retirada do patrimônio do fundo e, portanto, tem impacto direto sobre o retorno total. Outro fator a ser considerado é o prazo da aplicação, pois, quanto maior, menor será a alíquota de imposto de renda sobre o ganho dos fundos e, portanto, maior a rentabilidade deles em relação à caderneta.

Na comparação entre as diferentes categorias de fundos que seguem a taxa de juro, há ainda fundos menos rentáveis que os DI. Levantamento do Valor com base em dados da Anbid, considerada a alíquota de 22,5% sobre o retorno, mostra que 18% de todos os fundos DI - mais de 50 - apresentam retorno inferior ao da caderneta de poupança no ano, até maio, de 3,32%. Mas, entre os fundos curto prazo, sobe para 36% a parcela de fundos que rende menos do que a caderneta. Na categoria dos renda fixa, esse percentual cai a apenas 9%.

O resultado dessa concorrência entre o retorno da caderneta de poupança e dos fundos já é percebido no mercado. Neste ano, os fundos DI já perderam R$ 10,5 bilhões em saques. Mas, em vez de transferir recursos do DI para a caderneta, os investidores têm preferido investir em outros fundos mais agressivos, comenta Ramos, do HSBC. Os fundos de renda fixa têm captação líquida de quase R$ 20 bilhões no ano enquanto a caderneta de poupança recebeu um total de R$ 3,7 bilhões no ano, até abril (últimos disponíveis, por conta da greve no Banco Central). As carteiras de renda fixa têm adotado perfil mais agressivo na aplicação dos recursos, com mais títulos de crédito privado ou papéis com vencimento longo. Isso tem agradado mais ao poupador do fundo DI do que a transferência para a caderneta de poupança.

Ainda que a captação da caderneta de poupança seja menor do que a dos fundos de renda fixa, é preocupante o aumento dos aportes à medida que os bancos têm de destinar parte desses recursos ao financiamento imobiliário. Isso porque, com o caixa lotado, os bancos têm de emprestar mais, exigindo maior cautela para a concessão de crédito.

Ramos, do HSBC, prevê que sempre haverá investidores cativos dos DI, como ocorreu por anos com a própria caderneta enquanto oferecia o menor retorno do mercado de renda fixa. "O fundo DI continua grudado no juro corrente e, portanto, segue como alternativa conservadora a uma eventual reversão do cenário."