Título: Inovação é financiada com capital próprio por micro e pequena empresa
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Brasil, p. A2

As quedas das taxas de juros e o aumento do volume de crédito não têm sido suficientes para impulsionar a inovação em micro e pequenas empresas, segundo aponta estudo da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). Mesmo com crédito abundante no país, o segmento segue financiando com recursos próprios o desenvolvimento de novos produtos.

O levantamento, feito com 184 micro e pequenas empresas tidas como altamente inovadoras, mostra que, nos últimos três anos, 67% delas utilizaram dinheiro próprio para inovação. Os recursos de terceiros responderam por 28%. "Muitas vezes o empreendedor não tem as garantias exigidas pelo financiador, que chegam a ser de 140% do volume do empréstimo", diz Martín Izarra, um dos coordenadores do estudo. "A burocracia continua sendo muito grande."

A falta de recursos financeiros, com 76%, e a burocracia no financiamento público, com 42%, foram os dois fatores citados como os maiores entraves para que pesquisa e inovação não sejam maiores nas pequenas empresas. As respostas, de múltipla escolha, também citaram com destaque a baixa capacitação profissional.

Alternativas aos empréstimos bancários, como os fundos de capital de risco, que investem em empresas emergentes, ainda não estão disseminadas, diz Izarra. "Muitas vezes, os fundos de capital de risco assumem fatias da empresa financiada quando os resultados não atingem o esperado. Em vez de o fundo assumir o risco, quem fica com ele é a empresa."

Apesar dos entraves apontados pelo estudo, 40% das micro e pequenas empresas afirmaram ter desenvolvido ao menos um novo produto nos últimos três anos. Segundo Izarra, para contrariar o senso comum de que as pequenas não investem em inovação, constatou-se que, quanto menor a companhia, mais ela se dedica a desenvolvimento. "À medida que cresce, a empresa consolida sua atuação e se concentra em produtos e setores que já conhece."

As micro e pequenas ouvidas pela Anpei consideram que "inovação" é a melhoria de produtos, mas também de processos nas linhas de produção. O dado contrasta com o resultado da última Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE, que abrange também empresas de grande porte.

No estudo da Anpei, 86% das empresas entrevistadas compram máquinas e equipamentos para melhorar produtividade e resultados, mas apenas 49% delas consideram importante essa medida. Na última Pintec, apresentada em 2005 e com dados entre 2001 e 2003, esse número foi de 67%.

"O resultado da Pintec mostra uma visão limitada das empresas de maior porte, que acham que comprar máquinas é suficiente. Em cinco anos, essas empresas vão ficar obsoletas", afirma Izarra. No levantamento do IBGE, 14% das companhias informaram ter desenvolvido novos produtos no período de três anos.

Os resultados apurados pela Anpei foram levados à conferência que a entidade organiza em Salvador e que se encerra hoje. Segundo Izarra, além de compreender o processo de criação de novos produtos nas pequenas companhias, o estudo pode ajudar a ampliar as fontes de financiamento. A associação pretende agora realizar levantamento semelhante exclusivo para médias empresas.