Título: Lula defende investigação mas diz acreditar na inocência do irmão
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Política, p. A8

"Quem andar corretamente não tem chance de ser investigado; quem pisar na bola vai ser investigado", reagiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao comentar ontem, em entrevista coletiva, o indiciamento do próprio irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá, por envolvimento na máfia dos caça-níqueis, e elogiar a ação da Polícia Federal no caso. Ele disse, porém, acreditar na inocência do irmão. Lula foi informado dos detalhes do indiciamento do irmão, ao voltar de uma caminhada antes de iniciar seus compromissos do dia. Muito suado, irritado, chegou a dizer palavrões, e chegou a pensar em cancelar parte da agenda da manhã.

Foi um presidente sorridente, porém, que foi ao encontro dos repórteres, no fim da manhã, já prevenido de que queriam falar com ele sobre a ação policial. "A Polícia Federal está cumprindo um papel extraordinário no Brasil", comentou Lula que manteve todos os compromissos do dia e até fez brincadeiras com os jornalistas, sempre sorrindo, depois da entrevista. "Disse outro dia que a Polícia Federal vai continuar investigando todas as pessoas que tiver (sic) uma determinação judicial em função de quebra de sigilo telefônico."

Declarando-se pessoalmente contrário à legalização dos bingos, Lula cobrou do Congresso a regulamentação do tema, e lembrou que editou medida provisória - derrubada pelos parlamentares - para firmar a proibição e evitar disputas judiciais que permitem abertura de bingos por liminares.

"Estava convencido, naquele instante, pelas informações que recebia da própria PF, de que o bingo era utilizado como lavagem de dinheiro", explicou. "Agora, dizem que tem uma diferença. Uma coisa é o bingo, no qual vão as mulheres, as velhinhas jogar, e outra coisa são as máquinas nas quais, ali, parece que há distorção", explicou. "De qualquer forma, acho que o Congresso pode regulamentar"

Depois de defender o irmão, Lula reforçou o apoio ao indiciamento feito pela polícia. "A única coisa que peço publicamente, e já pedi, na semana passada, é que a polícia tenha serenidade nas investigações para que a gente não condene inocentes e para que a gente não venha a absolver culpados", disse. "A seriedade, para mim, é o que conta nisso."

"Aqueles que serão inocentes vão ser inocentes. Aqueles que forem culpados vão ser punidos", comentou o presidente. Outro indiciado (e preso) pela Polícia Federal ligado à família do presidente foi o assessor técnico da Companhia de Saneamento de Diadema (Saned), Mário Morelli Filho, cujo filho tem Lula como padrinho, como contou ontem o próprio presidente. Lula disse que foi informado sobre investigações contra Morelli, mas que não teve mais notícias do ministro Tarso Genro. "Se foi preso, será investigado, interrogado, e, depois, haverá um veredito." Morelli foi afastado do cargo ontem pela Prefeitura de Diadema.

Ao lhe perguntarem quem haveria "pisado na bola", no caso, não confirmou se estava se referindo ao irmão ou a Morelli. "Se as pessoas tiveram compromissos telefônicos, falaram o que não deviam por telefone, e tinha uma escuta telefônica para te investigar, e depois pegou outra pessoa conversando com você, ora, todos estarão suspeitos até prova em contrário", comentou "Essa é lógica: todos serão investigados, e depois vai ter o resultado final", complementou. Como resultado final, "os inocentes continuarão inocentes, e os culpados irão para a cadeia", disse o presidente.

Lula repetiu por cinco vezes não acreditar que o irmão - que lembrou conhecer há 61 anos - tenha atuado para a máfia dos caça-níqueis ou participado de tráfico de influência no governo. "Sempre que eu tento separar o papel de ser humano normal e de irmão e de Presidente da República... eu separei na questão (da discussão) do aborto, com o Papa", comparou. "Obviamente, como irmão, tenho um carinho pelo Vavá extraordinário, é um dos melhores irmãos que eu tenho; ele é uma espécie de pessoa que cuida dos problemas de todo mundo", comentou, ao reiterar sua crença na inocência do irmão. "Como presidente da República, se a PF tinha uma autorização judicial e o nome dele aparecia, paciência."

"O Tarso só disse que tinha feito a operação, que tinha investigado a casa do meu irmão, e eu acho que isso é normal", comentou Lula, ao falar do contato que manteve com o ministro da Justiça. Lula disse não acreditar que o envolvimento do nome do irmão aumente o clima de disputas no Congresso. "Não discuto o que a oposição faz", disse. "A mim cabe, como presidente, apenas garantir que haja a investigação mais profunda possível, porque eu acho que esse é o papel da PF."

O presidente elogiou a Polícia Federal, "uma polícia republicana, que não escolhe partido, que não escolhe religião, que faz as investigações porque precisam ser feitas". "Todas vez que nós temos isso aparece uma certa confusão, eu agradeço a Deus de o Brasil ter uma PF com a competência da nossa PF".

"Que eu posso pedir? Para as pessoas andarem corretamente, quem andar corretamente não tem chance de ser investigado. Quem pisar na bola vai ser", comentou o presidente, que riu ao ouvir que o nome da operação da PF é Xeque-mate, movimento de xadrez no qual a peça do rei fica encurralada sem condições de permanecer no jogo.