Título: Confirmação de Mangabeira aumenta queixas do PT
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu a pressões tanto quando desistiu do convite ao filósofo Roberto Mangabeira Unger quanto quando decidiu confirmar para o dia 15 de junho, sexta-feira, sua posse na Secretaria de Ações de Longo Prazo. Na desistência, as pressões foram comandadas pelo PT; na confirmação, pelo vice-presidente José Alencar, autor da indicação.

Ao perceber que Lula cederia às pressões do PT, o vice-presidente reagiu com o seguinte comentário: "Eu não pedi nada no segundo mandato. O primeiro que eu peço começam a queimar antes?" Lula nunca quis nomear Mangabeira Unger para o governo, pois não o perdoou por um artigo, escrito em 2005, no qual classificou seu governo como o mais corrupto da história. Só o fez para atender Alencar.

A confirmação de Mangabeira Unger está sendo encarada no PT como mais uma de uma série de desfeitas de Lula ao partido, que espera pela primeira ocasião em que o presidente precisar da legenda para dar o troco. O partido está quieto, por enquanto, devido aos altos índices de popularidade do presidente.

A rejeição à indicação de Mangabeira Unger foi unânime no PT, dos dirigentes dos fundos de pensão às bancadas no Congresso. O partido assumiu um posicionamento político oficial contrário à nomeação, e passou a se considerar credor de Lula. Quando foi conhecido que o filósofo movera uma ação contra a Brasil Telecom - controladas pelos fundos de pensão das estatais - depois que recebera o convite para o ministério, o PT voltou a carga com força redobrada.

O Palácio do Planalto averiguou e logo confirmou que Mangabeira Unger de fato movera uma ação indenizatória por serviços prestados à Brasil Telecom. Ato seguinte, deixou vazar que Lula preferia - o que era fato - que o filósofo arrumasse uma desculpa para recusar o cargo. Foi quando José Alencar entrou em cena. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE), amigo de Mangabeira Unger, também saiu em defesa de seu antigo assessor na campanha presidencial de 2002. Foram ações individuais - PSB, PCdoB e PDT, principais partidos do Bloco de Esquerda, do qual faz parte também o PRB do vice José Alencar, não tiveram uma ação articulada no episódio.

"Não é que o governo seja contra ou a favor do Daniel Dantas (do Opportunity, antigo controlador da Brasil Telecom), o que importa é que o Mangabeira moveu uma ação depois de ter recebido o convite. Além de ter chamado esse governo de o mais corrupto da história, tem uma questão ética envolvida", explicou um petista que acompanhou o movimento nos bastidores.

O PT relacionou o desfecho da crise Mangabeira Unger na lista de demandas do partido com Lula, que só vem crescendo no segundo mandato. São várias as queixas dos petistas em relação ao presidente, desde o fato de ter ficado de fora do eixo da articulação política e dos principais ministérios encarregados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) até as freqüentes "humilhações" que ele estaria impondo ao partido.

Alguns outros episódios citados. Lula recebeu Fernando Collor, o ex-presidente que o PT nunca anistiou por causa da campanha de 1989. Até aí, foi entendido. Como presidente da República é sua função receber senadores. Mas o partido se enfureceu quando foram divulgados detalhes da conversa, com Lula e Collor amigavelmente discutindo a decoração do gabinete na época de um e de outro.

O PT também aceita que Lula telefone para o presidente do Senado, Renan Calheiros, se solidarizando. Mas acha que passou dos limites quando ligou várias vezes, porque não fez o mesmo quando José Dirceu, José Genoino e Antonio Palocci quando estes caíram em desgraça.

Por fim, os petistas criticam Lula quando o presidente afirma que o candidato à sua sucessão sairá da coalizão. A sigla até admite a idéia, "mas não vai vender barato", diz um petista. O trabalho agora é para fazer um candidato ou candidata. Segundo o mesmo petista, está se formando um "tsunami" no PT contra Lula.