Título: Funcionário mantém versão de Renan
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Política, p. A10

Em depoimento de duas horas ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), e a seis integrantes do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o economista Cláudio Gontijo confirmou a versão do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), para o fato de ter feito pagamentos pessoais para o pemedebista. Funcionário da construtora Mendes Júnior há mais de 15 anos, Gontijo garantiu - segundo os senadores - que era do senador o dinheiro repassado à jornalista Mônica Veloso quando estava grávida da filha do senador, hoje com três anos de idade.

Para Tuma, talvez seja necessário ouvir a jornalista. Quer saber se tem documentos que comprovem depósitos em sua conta bancária supostamente feitos por Gontijo. A maior parte dos repasses, no entanto, não pode ser comprovada, por ter sido feita em dinheiro, segundo o funcionário da Mendes Júnior. Ele disse ser amigo de Renan há 20 anos, desde quando trabalhava em outra empresa.

Os pagamentos do pemedebista a Mônica foram feitos por meio de Gontijo até o reconhecimento da paternidade e a fixação judicial de uma pensão, em 2005. Até então, ele seria encarregado de repassar à jornalista R$ 12 mil mensais. Numa primeira fase, tratava-se de pensão de R$ 8 mil mais R$ 4 mil de um serviço de segurança. Depois, pensão de R$ 8 mil mais R$ 4 mil do aluguel de um apartamento). Além disso, fez um pagamento de R$ 40 mil, referentes ao adiantamento do aluguel de um ano da casa em que ela morou antes do apartamento.

O advogado do funcionário da Mendes Júnior, Segismundo Marques Gontijo - seu irmão -, justificou a intermediação do economista porque Renan "queria manter discrição sobre a paternidade". Confirmou que algumas vezes o dinheiro foi entregue na sede da Mendes Júnior, mas disse que a empresa "nunca soube, nunca bancou um tostão".

No fim, o advogado divulgou uma nota afirmando que "um dos traços marcantes da personalidade do economista e administrador de empresas, Cláudio Gontijo é a fidelidade às suas amizades". Diz que Gontijo "conversou amistosamente" com Mônica várias vezes, e que o contato foi interrompido por determinação do advogado dela. A nota diz, ainda, que Renan "assumiu espontaneamente a paternidade" da filha e completa: "As prestações alimentícias devidas à criança foram também por ele pagas de forma espontânea e exclusiva, tudo sem a mínima participação da construtora".

Ao final do depoimento, Gontijo disse estar tranqüilo com seu envolvimento nas suspeitas de que o senador poderia ter usado recursos de empresa privada para fazer pagamentos pessoais. "Quem está com a verdade sempre fica tranqüilo", afirmou.

O conselho se reúne hoje para discutir a representação do P-SOL, que pede investigação contra Renan sobre suposta quebra de decoro pelos pagamentos feitos à mãe de sua filha por intermédio de uma pessoa ligada a uma empreiteira. O conselho pode abrir o processo ou arquivar a representação.

Integrantes do conselho questionam a competência de Tuma para ouvir depoimentos e analisar documentos do caso. Demóstenes Torres (DEM-GO) e Jefferson Péres (PDT-AM) argumentam que ao corregedor cabe investigar apenas fatos ocorridos dentro do Senado. "A Corregedoria não tem nada a ver com o fato", afirmou Péres. Ele e Demóstenes vão cobrar hoje do presidente do conselho, Sibá Machado (PT-AC), a designação de um relator ou a criação de uma comissão de três senadores para fazer a investigação.