Título: Presidente da Embraer responsabiliza pilotos
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Política, p. A12

Frederico Fleury Curado, presidente da Embraer, empresa que fabrica o jato Legacy, colocou ontem ainda mais suspeitas sobre a responsabilidades dos pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paladino no acidente com a avião da Gol em 29 de setembro do ano passado. Desde o choque das duas aeronaves no ar, que provocou a queda do avião civil e a morte de 154 pessoas, havia suspeições sobre possíveis falhas no equipamento do jato.

Curado refutou ontem qualquer possibilidade de defeito e jogou a responsabilidade para cima dos pilotos. "Todos os testes foram feitos antes e depois do desastre e o equipamento funcionava muito bem", disse o presidente da Embraer. Ele negou também que o aparelho anticolisão do jato fosse usado. "Já mostramos que essa denúncia não procede", afirmou.

As desconfianças surgiram porque, no momento da colisão, o aparelho anticolisão do jato estava desligado. Além de descartar falhas no equipamento, Curado aumentou ainda mais a responsabilidade dos pilotos. Fala-se que os americanos poderiam ter desligado o equipamento anticolisão com um esbarrão sem querer. "Desligamento involuntário é altamente improvável. O botão tem que ser apertado duas vezes. Não é algo que se faça por um esbarrão", disse Curado.

A questão dos pilotos ficou ainda mais complicada quando o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) trouxe a degravação da caixa-preta do jato Legacy. As conversas do piloto e do co-piloto mostram dois profissionais descompromissados com o plano de vôo. "Estou com medo de brincar com essa coisa no ar", disse o piloto para, em seguida, dizer que sairia da rota um pouco. "Só vou virar um pouco para a direita e voltar à rota. Vamos um pouco naquela direção", disse um dos tripulantes, como se fosse possível fazer mudanças no vôo sem avisar as torres de controle. Em outro momento, os dois falavam sobre pegar uma câmera para tirar fotografias.

No vôo, Paladino e Lepore pareciam perdidos. Em um dado momento, um vira para o outro e pergunta: "Onde estamos?" A resposta do companheiro de viagem dá conta a situação precária do vôo. "Não tenho a menor idéia."

No restante do depoimento, Curado falou sobre o mercado da aviação brasileira. Ele revelou que, em dez anos, pretende ter vendas no mercado de aviões executivos - do qual o Legacy faz parte - no mesmo patamar de seus aviões para a aviação civil.

Curado respondeu também à pergunta sobre os motivos pelos quais a Gol e a TAM não adquirem aeronaves da empresa. O presidente da Gol, Constantino Júnior, revelou à CPI que a política da empresa pedia aviões maiores do que aqueles fabricados pela Embraer. Curado, porém, discordou do empresário: "Temos estudos que mostram que há potencial para o mercado nacional absorver de 30 a 50 aeronaves dos tamanhos das nossas".

Depois de Curado, o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, José Márcio Monsão Mollo, prestou depoimento. Para ele, o culpado pela crise aérea é o governo federal. "O responsável é o governo, que diminuiu os gastos com o setor. Os investimentos federais não acompanharam o crescimento das empresas e da demanda", afirmou.