Título: Sem chuvas, Chile pode ter de racionar energia em 2008
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Internacional, p. A14

O Chile pode ter de enfrentar um racionamento de energia no ano que vem por causa do regime de chuvas abaixo do normal, que afeta a geração de energia hidrelétrica, e por causa da diminuição do fornecimento de gás natural vindo da Argentina, segundo previsão foi feita pelo banco de investimentos americano Bear Stearns.

Analistas dizem que isso pode representar um freio de mão para toda a economia chilena. E a falta de alternativas de curto prazo pode levar o Chile a fazer concessões importantes à Bolívia, para superar a oposição pública boliviana a uma eventual exportação de gás ao país vizinho.

O regime pluviométrico no Chile este ano registra volume 40% menor do que a média histórica, o que causa a redução do nível das barragens. E, segundo os analistas, essa tendência deve se estender pelo resto do ano. Já o fornecimento de gás natural vindo da Argentina deve continuar a ser insuficiente para suprir as termoelétricas no ano que vem.

"Estamos cada vez mais preocupados com o fornecimento de eletricidade na Chile já em 2007 e mais ainda em 2008", disse Rowe Michels, analista da Bear Stearns, em um relatório sobre a economia chilena. "As dificuldades no panorama hidrelétrico se tornam ainda piores por causa dos cortes de fornecimento do gás argentino, o que vem causando uma grande elevação das tarifas."

"No caso de mais um período de chuvas ruins em 2007, acreditamos que em 2008 pode-se chegar no país a adotar uma série de medidas de racionamento, afetando a economia do país", disse o relatório da Bear Stearns.

Essa situação poderia representar um freio de mão num momento em que o crescimento da economia do país está acelerado.

A atividade econômica do Chile aumentou 6,6% em abril em relação a um ano antes. No confronto com o mês anterior, houve, no entanto, queda de 0,3%. "No resultado do mês, incidiu a existência de um dia útil a mais do que em abril de 2006", apontou o Banco Central do país. Em março, a atividade cresceu 6,5% no Chile no confronto com o calendário anterior. No segundo mês, o crescimento foi de 5,7%.

As alternativas de curto e médio prazo são poucas, segundo analistas. "O Chile pode ser forçado a fazer concessões à Bolívia, como forma de viabilizar a importação do gás natural boliviano", afirma o economista chileno Antonio Garretón, da Universidade do Chile.

A opinião pública boliviana é contra a venda de gás ao vizinho devido a uma disputa histórica com o Chile por causa de territórios de costa perdidos pela Bolívia numa guerra no século XIX. La Paz exige que um acordo sobre a concessão de uma saída para o mar seja firmado antes de permitir a venda de gás para o mercado chileno. Nos últimos meses, o governo boliviano começou a se mostrar mais flexível, chegando a admitir que um plebiscito seja realizado para permitir a exportação.

Garretón não crê em concessões territoriais, mas acha que um acordo pode ser alcançado tendo como base soberania compartilhada sobre um porto na costa chilena no Oceano Pacífico.

Santiago iniciou no ano passado estudos sobre a viabilidade da adoção da energia nuclear, mas esse é um processo longo e de difícil implantação. O tema é delicado para a presidente Michelle Bachelet. Em novembro de 2005, ela assinou durante sua campanha eleitoral um termo com ONGs que defendem o meio ambiente no qual se comprometia a "não incluir a energia nuclear na política energética nacional".

(Com a Bloomberg)