Título: Ainda falta definir como incluir os emergentes no convescote dos ricos
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Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Inmternacional, p. A15

A Alemanha quer concluir a cúpula do G-8 nesta sexta envolvendo mais o Brasil, China, Índia, México e África do Sul na "governança global". Mas até ontem havia incerteza sobre como isso ocorrerá.

Bernd Pfaffenbach, secretário de Estado de economia e o principal organizador do G-8, como negociador da premiê Angela Merkel, disse ao Valor que a idéia é abrir um diálogo de dois anos com o que chama de "O-5". Dentro de um ano, a presidência japonesa do G-8 fará um relatório preliminar, e no ano seguinte será a vez da presidência italiana fazer a avaliação final da experiência.

Mas só a partir de hoje os países vão realmente discutir como formalizar e estruturar o diálogo entre o G-8 e o "O-5", já que os negociadores dos países ricos passaram a maior parte do tempo discutindo sobre a questão do clima. Os líderes vão se debruçar amanhã sobre a relação com os emergentes.

O secretário alemão destacou que, em todo caso, duas coisas são certas: primeiro, que o convite aos cinco não significa alargar o G-8 para 13. Mas, segundo, é "indispensável" que "alguns" desses emergentes estejam na mesa de discussões sobre os temas globais, referindo-se especialmente à China, com US$ 1,2 trilhão de reservas internacionais, para ajudar a reequilibrar a economia mundial.

"O presidente Lula quer ampliar o papel do Brasil na economia mundial, e não só na agricultura. O ministro Celso Amorim tem papel central nas negociações da Rodada Doha. O Brasil é um importante 'player' e precisa estar à mesa."

Ele destacou que um dos temas nos quais interessa ampliar a cooperação com o Brasil é o combate ao desmatamento na Amazônia.

Diante da "dura concorrência" dos mercados asiáticos e da América Latina "no futuro", a Alemanha tomou a iniciativa de propor a seus parceiros do G-8 o chamado "Processo de Heiligendamm", para juntar forças com os principais emergentes, que são assim chamados a assumir mais responsabilidades.

Pfaffenbach confirmou que a proposta alemã continua sendo de que a discussão sobre temas como propriedade intelectual e investimentos ocorra sob "o guarda-chuva" da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), do qual apenas o México dos cinco emergentes é sócio.

Nesse ponto está uma das divergências, porque o Brasil, por exemplo, prefere separar esse dialogo com o G-8 de sua participação normal na OCDE como observador. O Brasil até aceita que o dialogo entre ministros sobre variados temas ocorra na OCDE, mas como base logística, e sem a participação dos outros membros dessa entidade. Já Pfafenbach acha que "até por cortesia" todos os membros da OCDE deveriam participar dos encontros com o "O-5"' - o que aumenta a pressão sobre os emergentes.

Ocorre que o Japão resiste a dar seu sinal verde ao projeto alemão, porque não quer dar espaço internacional para a China. Mas Pfafenbach nota que a participação dos cinco emergentes no PIB mundial não cessa de subir (veja gráfico), e que a parte maior vem da China.

Exemplificou que a parte da China no PIB global pulou de 5,7%, em 1990, para 15,4% em 2005, seguirá a subir e vai superar a União Européia. As economias china e indiana sozinhas colocam 105 milhões de novos trabalhadores por ano no mercado de trabalho, contra menos de um milhão na UE.

Uma fonte alemã considera que, se os emergentes decidirem logo formar o G-5, seria mais fácil estruturar o dialogo com os ricos. Essa possibilidade foi discutida por Brasil, China, Índia, México e África do Sul e não está excluída.

"O G-8 precisa desses emergentes, porque não tem sentido discutir com Itália e Canadá e não com China e Índia", afirma o professor Eckert Stratenschulte, diretor da Academia Internacional de Berlim, que estuda política externa. "Outra questão é se o próprio G-8 tem futuro. Essas reuniões fazem muito barulho. Seria mais importante as discussões na ONU."

A Alemanha prepara um megaesquema de segurança para a reunião. Já ocorrem protestos.