Título: Máquinas e construção puxam investimento
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Brasil, p. A4

Depois de seis meses de altas consecutivas, a produção industrial em abril caiu 0,1% na comparação com março, na série com ajuste sazonal. Essa pequena queda, porém, não ofuscou o bom desempenho da indústria, evidenciado pelos números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), principalmente no que se refere ao investimento: a produção de bens de capital e a de insumos típicos para a construção civil tiveram desempenho forte em relação a abril de 2006, confirmando a expansão em curso da capacidade produtiva na economia. A indústria como um todo avançou 6% na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, ressalta o forte crescimento da produção de bens de capital, de nada menos de 17,4% em relação a abril de 2006. Todos os subsetores tiveram expansão significativa, como os agrícolas (alta de 39,4%), para energia elétrica (de 29,5%), e para fins industriais (de 23,2%). No acumulado do ano, a fabricação de bens de capital atinge 15,4%. Somada ao forte crescimento das importações, o consumo aparente de máquinas e equipamentos (que exclui exportações) registra aumento de 16,6% de janeiro a abril.

A produção de insumos para a construção civil também mostrou bom desempenho em abril: alta de 7,4% na comparação com o ano passado, puxando de 2,2% para 3,5% a alta acumulada em 2007.

Com essa combinação, Thaís estima que a formação bruta de capital fixo (que mede o investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos) cresceu 9,2% nos primeiros quatro meses do ano. Segundo ela, isso confirma que "os investimentos na expansão da capacidade produtiva estão a todo vapor". Juros em queda, associados à perspectiva de demanda forte, ajudam a explicar esse movimento, afirma Thaís. Além disso, o câmbio valorizado, se afeta alguns segmentos da economia, barateia e estimula a importação de bens de capital, completa.

Na comparação com março, a produção de bens de capital caiu 1,2%, na série com ajuste sazonal. Para o Credit Suisse, o resultado não preocupa, porque o segmento vinha apresentando expansão significativa, ainda que em março tenha havido uma queda de 0,4% em relação a fevereiro. Thaís considera os recuos normais, lembrando que a produção de bens de capital está num patamar elevado.

Em abril, a produção de bens duráveis também mostrou uma alta significativa, de 5,4%, na comparação com 2006, e uma queda, de 1,4%, em relação a março deste ano. A fabricação de automóveis, eletrodomésticos da linha branca (como geladeiras) e produtos de informática foi muito bem, mas o resultado geral dessa categoria de uso foi puxado para baixo pelo tombo dos eletrodomésticos da linha marrom (como televisão), que tiveram queda de 14,8%, e celulares (recuo de 12,9%).

Segundo os economistas do Credit Suisse, "a aceleração da oferta de crédito e da massa de rendimentos reais nos primeiros meses de 2007 não tem beneficiado o consumo de duráveis de forma homogênea, o que torna mais suave a recuperação da produção do segmento e reduz os riscos de pressão inflacionária através desse canal, especialmente quando se observa aumento de preços em importante insumos, como aço, e risco em outros, como plástico".

Os analistas esperavam que a produção industrial crescesse em abril algo como 1% em relação a março, devido ao bom resultado de indicadores antecedentes. A queda de 0,1% surpreendeu negativamente, mas não foi considerada grave porque a série dessazonalizada costuma ser mais volátil e também porque a produção se encontra num nível elevado. A LCA Consultores acredita que a atividade mostra uma acomodação no começo do segundo trimestre.

Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o crescimento da produção industrial de 4,3% de janeiro a abril indica que a indústria está num "patamar superior de crescimento". Em 2006, vale lembrar, a expansão foi de apenas 2,8%. Mesmo assim, o Iedi mostra alguma cautela, uma vez que houve recuo em relação a março na série dessazonalizada, ainda que de apenas 0,1%.

O coordenador de Indústria do IBGE, Silvio Sales, nota que a valorização do real causou efeitos limitadores à expansão da indústria em abril. Predominantemente, os setores que estão com as taxas mais negativas perdem espaço nas exportações ou perderam produção para os importados, segundo ele. Entre os segmentos mais afetados, estão calçados, vestuário, celulares e televisores. O segmento de material elétrico e comunicações tem sido um dos mais afetados e registrou queda de 14,1%, quando se compara o resultado de abril com o mesmo mês de 2006. A segunda maior redução foi no segmento de móveis, de 8,6%, também afetado pelo dólar. (Colaborou Ana Paula Grabois, do Valor Online)