Título: Governo desperta polêmica ao adotar barco para captura
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Empresas, p. B2

Há dez meses, o litoral pernambucano não registra ataques de tubarões a banhistas. No entanto, os meios que o governo estadual encontrou para evitar o problema têm causado bastante polêmica, envolvendo questionamentos do Ministério Público Federal e de ambientalistas.

Desde maio de 2004, o barco Sinuelo, do departamento de pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), percorre cerca de 20 quilômetros para fazer a captura de tubarões com anzóis, no trecho onde quase todos os incidentes aconteceram. Foi a maneira adotada para evitar que eles cheguem às praias. Depois de pegos, os animais são usados para estudos na universidade.

Até março deste ano, nos 31 meses em que o Sinuelo esteve em operação, 30 tubarões foram capturados. E apenas um ataque foi registrado. Por outro lado, nos oito meses em que a embarcação ficou parada, oito casos foram registrados.

Essas capturas geraram um questionamento por parte do Ministério Público Federal (MPF), que queria saber elas representavam alguma ameaça às espécies marítimas e ao equilíbrio ambiental. No final de maio, porém, o caso foi arquivado porque o MPF concluiu, com base nas explicações dos pesquisadores da UFRPE, que não existiam riscos.

Entre ambientalistas, entretanto, a prática recebe críticas. "Não vejo com bons olhos a pesca de tubarão. Se é possível evitar o problema com educação, ensinando as pessoas a conviver com isso, para que matá-los?", explica Otto Bismarck Gadig, biólogo, professor da Universidade Estadual Paulista especialista em tubarões e assessor da revista "National Geographic".

A ação do Estado é coordenada por outro estudioso do assunto, Fábio Hazin, professor da UFRPE. Ele preside o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), entidade que congrega especialistas em tubarão, surfistas, organizações não-governamentais (ONG), hoteleiros e administradores públicos. É dentro desse comitê que são traçadas as estratégias de combate ao problema do tubarão no Estado.

Para Hazin, a captura do tubarão não traz prejuízo ecológico. "As pessoas fazem críticas achando que tubarão é igual a baleia ou tartaruga. Mas não é. O tubarão nada mais é do que um cação, um peixe que a gente come", afirma o professor. "Apenas na pesca de atum são capturadas toneladas de tubarões. Ninguém diz nada, sendo que nenhum deles serve para pesquisas como os que pescamos."

Dentro do próprio Cemit, a captura dos animais encontra resistência. A ONG Instituto Praia Segura, por exemplo, condena o método pelo fato de eliminar os tubarões. Para Rômulo Bastos, coordenador do Praia Segura, o melhor seria instalar uma tela de proteção no mar - evitando que entrassem na área de banho e ao mesmo tempo preservando a vida deles. O método, usado em Hong Kong, ainda precisa ser aprovado pelo Cemit.

Nos próximos meses, a captura dos tubarões deverá se tornar menos intensiva no Estado. Isso porque o governo estadual está investindo R$ 1,3 milhão na compra de equipamentos que irão monitorar os tubarões via satélite. Inicialmente, chips serão implantados em 12 tubarões, que passarão a ser rastreados. Se eles invadirem a área da praia, sensores emitirão o alerta, permitindo a retirada das pessoas da água.

O sistema também trará mais informações sobre o comportamento dos animais. Será possível saber por onde eles navegaram, a quais temperaturas e em que profundidade.

Quando os equipamentos estiverem em operação, só os tubarões que já estiverem bastante debilitados serão capturados para fins de pesquisa, já que qualquer aproximação da praia será detectada pelo sistema. (CM)