Título: Petrobras considera ampliar ainda mais negócios com etanol
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2007, Agronegócios, p. B12

Já com forte presença na distribuição e planos ambiciosos para transporte e produção de álcool no país, a Petrobras caminha a passos largos para se consolidar como um dos principais players do "novo" mercado global do combustível que começa a se formar.

Ontem, no segundo e último dia do seminário Ethanol Summit, em São Paulo, a estatal voltou a sinalizar que seu apetite é grande e que a influência que pretende ter no segmento não é pequena. Atenta às demandas da iniciativa privada, seu braço de logística, a Transpetro, confirmou que tem interesse em construir outro alcooduto além dos que já anunciou, desta feita em parceria com os usineiros.

"Hoje o mundo é feito de parcerias. Temos que discutir o que é melhor para o país", afirmou Sérgio Machado, presidente da Transpetro. Segundo ele, hoje os custos logísticos para levar o álcool das usinas aos portos dos EUA e da Ásia correspondem a 20% e 30%, respectivamente, do custo total do etanol. E, para que o Brasil seja mais competitivo, disse, é preciso reduzir esse percentual para 10%.

Num horizonte de maior competitividade brasileira e adoção do uso do etanol em mercados importantes como o Japão, a Transpetro visa elevar o volume de embarques de etanol dos atuais 500 milhões de litros por ano para 12 bilhões até 2015, sendo que já há capacidade para 2 bilhões de litros. Para isso, já definiu projetos que exigirão investimentos da ordem de US$ 2 bilhões em alcoodutos, considerados vitais para conferir segurança aos importadores.

Um deles, em obras, escoará etanol desde Goiás até o porto de São Sebastião (SP). Outro, com 900 quilômetros, ligará Campo Grande (MS) ao porto de Paranaguá (PR). A Transpetro também estuda mais dois dutos, para as regiões Nordeste e Sul do país.

O horizonte delineado pela estatal é até mais otimista que o traçado por muitas usinas. Diogo Galhardo, diretor de operações da Coopersucar, por exemplo, acredita que o país exportará 9 bilhões de litros a partir da safra 2012/13. A cooperativa faz parte de um grupo de usinas, liderado pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), que planeja instalar seu próprio alcooduto, ligando Paulínia ao porto de São Sebastião. A meta é exportar 5 bilhões de litros de álcool em uma primeira fase, para chegar posteriormente a 10 bilhões. O aporte previsto é de US$ 450 milhões a US$ 500 milhões.

Galhardo e outros usineiros disseram, porém, que não têm interesse em parceria com a Transpetro, porque não querem ficar reféns da empresa. Conforme Galhardo, com o alcooduto próprio as usinas paulistas poderão reduzir o custo de exportação em 40%, para US$ 30 por metros cúbico. "Financiamento é bem vindo, mas não queremos ligação com o governo", afirmou o dirigente.

Mas, como ressaltou Paulo Fleury, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as exportações brasileiras de etanol também são limitadas pelos portos. Hoje Santos concentra os embarques, e sem investimentos em alternativas as vendas ao exterior dificilmente superarão 4 bilhões de litros.