Título: Renda e crédito longo explicam alta do comércio
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2007, Brasil, p. A2

Apesar do câmbio ter dado um impulso extra ao comércio, o crescimento da renda e o maior endividamento do consumidor são os dois grandes pilares desse movimento. A ampliação do prazo de pagamento que, já está, em média, em 12 meses têm facilitado a vida dos brasileiros. A pergunta que economistas e lojas se fazem é: até quando isso poderá ocorrer sem pressões maiores nas taxas de inadimplência?

Os analistas ouvidos pelo Valor consideram que como o cenário brasileiro é de aquecimento econômico, com mais renda e emprego, esse fôlego do consumo não deve se extinguir por pelo menos os próximos dois anos. "Não me lembro de nenhuma explosão da inadimplência em um quadro positivo como o que temos agora no país", argumenta Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora.

Segundo dados do Banco Central, a inadimplência ficou em 7,14% em março. Ela está nesse nível, de 7%, desde fevereiro do ano passado. Esse percentual considera inadimplente quem não pagou uma conta ou título depois de 90 dias de seu vencimento. Pelos números da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) a inadimplência também terminou em 7,1% em março, mas isso significou uma leve queda em relação a igual mês do ano passado, quando esse indicador foi de 7,3%.

Uma das explicações para a estabilidade da inadimplência, ainda que em níveis um pouco elevados, é o alongamento dos prazos de pagamento. Com um maior número de parcelas, embora os juros possam ser até maiores, o valor de cada uma delas acaba sendo menor e cabe no bolso do consumidor.

Entretanto, Maurício Moura, economista-chefe da Gouvêa de Souza & MD, avalia que essa facilidade de pagamento pode se voltar contra o varejista. "As pessoas costumam se perder em parcelamentos mais longos", afirma. Ele ressalta, porém, que ainda não se sabe ao certo qual será o efeito desses prazos maiores no consumo e na quitação das dívidas.

Ainda assim, a balança pende mais para um quadro de tranqüilidade. A expansão da renda e do emprego acima das expectativas enfatiza isso. Em fevereiro deste ano, Fábio Romão, da LCA Consultores, esperava um incremento de 4,4% na massa salarial no ano, que seria composto por alta de 1,55% no rendimento e de 2,8% na ocupação.

Com a redução da expectativa de inflação devido à valorização do real em relação ao dólar (que confere maior pode de compra à renda) e o crescimento do mercado formal acima das estimativas já neste início de ano, as projeções foram revistas. Agora Romão espera expansão de 2,1% na renda e 3,1% na ocupação, o que daria uma massa com crescimento de 5,2% e não mais com os 4,4% antes previstos. (RS)