Título: Emergentes terão mais acesso ao G-8
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2007, Internacional, p. A11

O encontro de cúpula do G-8, grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia, decidiu ontem reformar essa espécie de direção do planeta ao aprovar a ampliação do dialogo com Brasil, China, Índia, África do Sul e México, que representam quase metade da população e 28% do PIB global.

Os cinco vão ganhar maior acesso, mas ainda limitado, ao "clube de elite" nos próximos dois anos "como uma resposta importante para o processo de globalização", anunciou a premie alemã Angela Merkel, em Heiligendamm.

Ao mesmo tempo, os líderes dos cinco emergentes, reunidos em Berlim, praticamente iniciaram a criação formal do G-5. Decidiram coordenar melhor desde já suas posições, para ter "participação mais equilibrada" com o G-8.

Mas os cinco foram enfáticos em afirmar que podem debater no G-8, mas que deve ser sem prejuízo do sistema multilateral, ou seja, que as decisões mesmo tem de ser no âmbito das Nações Unidas, a começar pela questão climática.

Merkel disse que os líderes do Brasil e dos outros quatro países "são tão importantes" que deverão ser chamados a se envolver de modo mais detalhado em outras sessões do G-8 sobre economia global, energia, questões sociais etc.

A chefe do governo alemão disse que a decisão de envolver os grandes emergentes na "governança global", ao invés de apenas encontrá-los algumas horas, como na manhã de hoje, é uma resposta a todos os que questionam se o G-8 ainda é uma organização que tem seu espaço nos tempos modernos.

Merkel e os líderes do G-8 se opõem a uma expansão formal do "clube da elite" global, mas a Alemanha argumentava que era necessário dar um status especial para as novas potências econômicas.

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, isso é o reconhecimento da importância dos cinco emergentes. "Hoje não se discute mais clima, comércio e qualquer grande assunto global sem levar em conta a existência desses emergentes. É impossível do ponto de vista político e econômico."

Hoje, Lula e os presidentes da China, Índia, África do Sul e México participam ainda na condição de "convidados" de duas sessões com o G-8. Se o tempo for repartido igualmente, o presidente brasileiro terá não mais de 12 minutos para manifestar as posições do país.

O próprio Lula lamentou ontem que chegará a Heiligendamm sem "sem incidência" no documento final do G-8, pois o texto já foi elaborado e aprovado sem eles. No ano passado, em São Petersburgo, ele apresentava o documento dos cinco que seria levado ao G-8, quando foi surpreendido pela observação de um repórter de que o grupo dos ricos já tinha dado todas as respostas ao documento em seu comunicado, divulgado horas antes.

"Em relação a cinco anos atrás, o diálogo melhorou, mas não é satisfatório que cheguemos lá quando [as decisões] do G-8 estão prontas", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Com o novo diálogo, chamado de "Processo de Heiligendamm", haverá encontros regulares entre ministros dos 13 países nos próximos dois anos. Será criada uma "unidade especial" na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para administrar esse diálogo. O resultado satisfaz ao Brasil, que queria evitar confusão sobre o papel da OCDE e sua própria atuação como um dos lideres do mundo em desenvolvimento.

A Alemanha acalmou os emergentes, garantindo que a OCDE terá papel meramente técnico e não político, para facilitar as discussões entre os 13 países.

Pelo acerto, esse diálogo formal incluirá questões como liberdade de investimentos, proteção de propriedade intelectual, energia, além de questões da globalização, incluindo padrões sociais e ambientais. (Com o Financial Times)

O site da cúpula o G-8 é www.g-8.de