Título: EUA aceitam discutir clima na ONU; Brasil considera acordo 'insuficiente'
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Fonte: Valor Econômico, 08/06/2007, Internacional, p. A11

No principal resultado das discussões ambientais da cúpula do G-8, os Estados Unidos aceitaram ontem iniciar negociações ainda este, no âmbito da ONU, sobre um acordo de redução de emissões de gases que causam o aquecimento global. O objetivo é reduzir substancialmente as emissões de gases até 2050. Esse acordo sucederá o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. O Brasil, porém, considerou insuficiente esse compromisso.

A decisão foi saudada pela premiê alemã, Angela Merkel, anfitriã da reunião do G-8, como "um grande sucesso... Todos fizemos concessões para que pudéssemos emitir este sinal vigoroso". Não está claro, no entanto, se é mesmo um sucesso. Isso dependerá das negociações daqui para a frente.

O acordo marcou uma mudança clara para o presidente dos EUA, George Bush, que rejeitou o Protocolo de Kyoto e vinha obstruindo propostas para iniciar negociações em torno de um pacto substituto. Bush disse aos demais líderes do G-8 que os EUA estarão "ativamente envolvidos, quando não assumindo a liderança, num contexto pós-Kyoto, num acordo pós-Kyoto".

Bush havia proposto esta semana uma negociação envolvendo apenas os 15 maiores poluidores, inclusive o Brasil. Os EUA rejeitam acordos internacionais que obriguem o país a cumprir metas de redução de emissão de gases.

Hans Verolme, diretor da ONG de defesa do meio ambiente WWF, disse: "Trata-se de um nítido passo adiante. A adesão dos Estados Unidos ao acordo do G-8 representa uma mudança significativa". O acordo também deve agradar os mercados, disse. "Os mercados financeiros globais interpretarão isso como uma mensagem clara de que podem continuar investindo em desenvolvimento limpo."

O acordo de Kyoto fomentou um comércio em créditos de carbono que, até o ano passado, havia atingido um valor de aproximadamente US$ 30 bilhões.

O G-8 também declarou que os países emergentes precisam se esforçar para conter as emissões. O tema é polêmico. China, Índia e Rússia rejeitam redução de emissões que comprometam seu desenvolvimento. Bush vinha rejeitando qualquer acordo que não envolvesse os emergentes.

O Brasil critica o fato de o acordo do G-8 citar apenas um compromisso de longuíssimo prazo, para 2050. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil defende um acordo com compromissos no horizonte de 10 a 15 anos, para levar em conta inclusive tecnologias melhores para acelerar a redução das emissões.

Lula disse enfaticamente que o acordo do G-8 "vai apenas fazer com que os que estão poluindo continuem poluindo. Até 1050 muita água vai passar. Muita gente não vai fazer nada até 2049".

Ainda assim, Lula admite que houve avanço na posição de Bush, que antes não mostrava interesse pela questão ambiental, depois "tentou abolir o multilateralismo e criar um clube de amigos, aí não dá para aceitar", e agora aceita negociar no âmbito da ONU.

Durante reunião dos líderes do G-5 (Brasil, China, Índia, África do Sul e México) ficou acertado que eles vão enfatizar hoje três temas nas duas sessões em Heiligendamm com os líderes do G-8: mudança climática, comércio e metas do milênio de combate à pobreza.

Sobre mudanças climáticas, a mensagem é que os emergentes estão prontos a se engajar na redução das emissões, mas proporcionalmente ao seu desenvolvimento. "Todos sabemos que os países ricos são responsáveis por 60% das emissões de gases do planeta. E os países em desenvolvimento têm o direito de crescer como eles, e de ter a mesma qualidade de renda", disse Lula. Para ele, não dá para aceitar a idéia de que os pobres precisam fazer o mesmo sacrifício dos ricos.

Além disso, para "discutir com seriedade" a questão climática, Lula diz que o G-8 tem de considerar a importância dos biocombustíveis, em termos de eficiência energética, combate ao aquecimento e criação de empregos, inclusive na África.