Título: Copom deixa mercado órfão de sinais sobre política monetária
Autor: Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2007, Finanças, p. C2

Tanto pelo placar divergente de sua reunião de quarta-feira quanto pela mudança introduzida no comunicado pós-Copom, o Banco Central fez questão de retirar qualquer sinal sobre os próximos passos da política monetária. A simples aceleração da velocidade de queda da Selic - do 0,25 ponto aplicado nas reuniões de janeiro, março e abril para 0,50 ponto agora - não sinaliza a intenção de prosseguir no mesmo ritmo nas próximas reuniões, embora o Copom não goste de alterar a rota da política monetária a todo instante.

O principal aviso de que os rumos da política de juros permanecerão incertos, na dependência dos indicadores que saírem até a próxima reunião, dia 18 de julho, e dos desdobramentos do inquietante cenário internacional, foi dado claramente na nota pós-Copom. O teor foi idêntico ao dos textos anteriores, sempre sucintos, salvo por um detalhe significativo, a expressão "neste momento". A íntegra do comunicado data a decisão: " Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, neste momento, reduzir a taxa Selic para 12,00% ao ano, sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela redução da taxa Selic em 0,25 ponto percentual. "

"O Copom não sinalizou nada. Eu acredito que tentará, coerente com o sistema de metas de inflação, persistir no 0,50 ponto por pelos menos mais duas reuniões. Mas esta rota não está garantida", diz Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset.

A baixa de quarta-feira foi a 16ª seguida aplicada à Selic, como parte do ciclo de afrouxamento monetário iniciado em setembro de 2005, quando o juro básico estava em 19,75%. O corte acumulado alcança, portanto, 7,75 pontos percentuais. Mesmo assim, o juro real projetado, de 8,3%, ainda é o maior do mundo.

O placar sem unanimidade também foi construído com a finalidade de expurgar possíveis indícios sobre as decisões futuras. Até terça-feira, os economistas de bancos consideravam altamente provável o retorno da unanimidade. A forte turbulência internacional deixou, porém, nervosos os tesoureiros que fecham negócios no mercado futuro de juros da BM&F. E os contratos passaram a embutir um placar apertado de 4 a 3 em favor do 0,50 ponto. E o Copom optou por caminho em sintonia com as incertezas: cumpriu o que estava amplamente prometido (o corte em si de 0,50 ponto), mas deixou a próxima decisão em aberto.

Os mercados irão esperar com ansiedade a publicação, na próxima quinta-feira, da ata desta reunião do Comitê. Esperam que até lá sejam colocadas condições objetivas para uma definição mais consistente dos rumos.

Por enquanto, no entender do economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, se a visão se restringir ao ambiente inflacionário tranqüilo haverá mais cortes de 0,50 ponto. Apesar disso, para Rosa, ao abandonar o gradualismo (cortes sucessivos de 0,25 ponto) e adicionar mais gás em uma demanda que cresce a taxas expressivas, o BC está colocando em risco a estabilidade alcançada, com conseqüências negativas para a meta de inflação de 2008. "Se o BC tivesse mantido a estratégia gradualista, poderia colocar a taxa de juros em um dígito em meados de 2008, com inflação estável, dando sustentabilidade ao crescimento econômico", acredita o economista.

As entidades de classe empresariais do setor produtivo, sempre muito críticas à política monetária, moderaram os seus ataques pós-Copom, enquanto os bancos privados ampliaram a dose do corte dos seus juros. Nos meses em que o BC reduziu a Selic em 0,25 ponto, as instituições privadas baixaram as taxas em 0,02 ponto. Desta vez, o corte alcança 0,04 ponto. Foi o caso do HSBC, cuja taxa mínima do cheque especial caiu de 1,50% para 1,46% ao mês. E também do Banco do Brasil, cujas taxas mínimas do cheque especial e do cartão de crédito recuaram de 1,94% para 1,90% ao mês. Redução idêntica foi aplicada pelo Bradesco. Para os clientes pessoa física, os juros do cheque especial caíram de 7,99% ao mês para 7,95% ao mês, na máxima, e de 4,44% ao mês para 4,42% ao mês, na mínima.