Título: Apólice de helicóptero deve subir
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2007, Finanças, p. C8

A violência nas favelas do Rio de Janeiro já afeta o mercado de seguros de helicópteros. Nem as aeronaves civis que passam sobre os morros mais perigosos da cidade são poupadas dos tiros. Oficialmente, foram contabilizados seis ataques graves, segundo relatório da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), mas o mercado acredita que muitas outras aeronaves tenham sido alvo de tiros. As seguradoras afirmam que, se nada for feito, as apólices podem ficar mais caras.

Anteontem, para tentar resolver o problema, o Estado-Maior da Aeronáutica determinou mudanças nas rotas usadas por vôos civis no Rio. O objetivo é passar longe das áreas de risco. A partir do dia 28 haverá novas rotas e novas regras para a altitude de vôo. Os pilotos já vinham mudando seus caminhos informalmente, o que, segundo os executivos das seguradoras, trazia "certa tranqüilidade" para o mercado.

No Rio, há algumas rotas consideradas de extremo risco pelas seguradoras. Uma delas é a chamada Rota da Penha, que sobrevoa as favelas do Complexo do Alemão. Somente este ano, cinco helicópteros civis foram atingidos por tiros nesta região. Outro local de alto risco é a Rota Ferrovia, que passa pela favela do Jacarezinho. As informações são de um relatório distribuído a clientes da Correcta Seguros, corretora especializada no mercado de seguros aeronáuticos.

"As ocorrências ligaram um sinal de alerta no mercado", afirma Gustavo Mello, sócio da Correcta. "Estamos aguardando para ver como nos comportar", afirma uma executiva de uma seguradora que atua fortemente no segmento.

Os ataques começaram com a estratégia da polícia carioca de usar helicópteros como apoio para combater a ação dos traficantes nos morros da cidade. Com isso, os bandidos passaram a atacar qualquer aeronave.

Para determinar quanto vai custar o seguro, as seguradoras já aplicam há vários anos a análise do perfil do cliente, hoje muito comum no mercado de autos. No caso do helicóptero, por exemplo, avalia-se o perfil do dono da aeronave, para que ela será usada e que rota usará com mais freqüência. A cobertura é feita para o casco da aeronave. Há ainda a apólice de responsabilidade civil (RC), que cobre danos causados que ela cause a terceiros.

O Brasil tem 1.049 helicópteros. O Estado de São Paulo tem 467 unidades. No Rio, são 202, segundo dados da Anac.

Os especialistas alertam que pode acontecer no Rio o que já ocorreu em países como Colômbia, Peru e Equador. Em algumas regiões destes países, há zonas de exclusão onde as resseguradoras internacionais simplesmente não aceitam as garantias. A razão é o alto risco de guerra, confisco e seqüestro.

No Rio, o mercado já afirma que, para a aeronave que for alvejada nos morros e não tiver a chamada "cobertura de guerra", a seguradora não vai pagar os prejuízos. A cobertura tradicional do casco exclui o que pode ser caracterizado como "atentado". Apesar de não haver conteúdo político nos conflitos dos morros cariocas, os especialistas do setor dizem que o que ocorre hoje no Rio pode ser caracterizado como uma situação de guerra.

Um apólice normal para o casco custa entre 2% e 3% do valor do helicóptero. Já a cobertura de responsabilidade civil tem prêmio que varia de US$ 7 mil a US$ 11 mil para coberturas de US$ 3 milhões a US$ 10 milhões.

O mercado de seguros aeronáuticos movimentou R$ 203 milhões em prêmios no ano passado, incluindo aqui todas as apólices de jatos, aviões comerciais e helicópteros, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep). A sinistralidade foi de 53%. Este ano, até abril, foram R$ 127 milhões e sinistralidade de 87%. Pelo altos valores envolvidos, quase todo o risco é colocado no exterior com resseguradoras internacionais, principalmente para a apólice de RC. O mercado local fica com parcela ínfima.