Título: Para setores beneficiados, medidas são tímidas
Autor: Jurgenfeld, Vanessa e Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2007, Brasil, p. A5

Os empresários dos setores mais beneficiados pelas medidas do governo - têxteis, calçados e móveis - consideraram as medidas anunciadas pelo governo como insuficientes e reclamaram da não-adoção da desoneração da folha de pagamento. Os empresários queriam medidas que reduzissem os custos de produção. Reduzir o custo do investimento, dizem, é bom, mas com o câmbio atual são poucos os que irão se aventurar para aumentar a capacidade de produção.

"Se o governo tivesse colocado todo o setor no Simples, aí sim teríamos uma mudança", diz a presidente da Dudalina, Sônia Hess de Souza. Para ela, as medidas anunciadas não são as que o setor precisava - desoneração fiscal e reforma trabalhista. "O pacote não me fez rir", disse ela, ressaltando que a empresa tem interesse nas novas linhas do BNDES, mas que isso não levará a um superinvestimento ou grandes mudanças no planejamento da companhia.

A opinião de Sônia é compartilhada pelo presidente da Buettner, João Henrique Marchewsky. Sobre os empréstimos do BNDES, ele considerou que se as empresas com dívidas atrasadas junto ao governo não puderem pegar esse empréstimo, a medida não traz benefício. "Boa parte das indústrias tem pendências com o governo."

Para o empresário, grande parte dos investimentos em máquinas direcionados ao aumento da produtividade já foi feito, e por isso as alterações relacionadas a PIS e Cofins trazem pouco benefício. "São poucas as indústrias que estão com capacidade de investimento. As medidas vieram tarde, bem tarde, porque há dois anos estamos praticamente apenas sobrevivendo." A desoneração da folha de pagamentos, que seria uma medida mais importante, segundo Marchewsky, não ocorreu. "O governo não mexeu no eixo do problema."

Na Teka, fabricante de itens de cama, mesa e banho, o pacote também não entusiasmou. Marcello Stewers, diretor de relações com investidores, criticou as medidas, dizendo que o "problema do câmbio é estrutural e não é com dívida mais barata que será resolvido".

O presidente da indústria têxtil Buddemeyer, Evandro Müller, foi um dos poucos do setor que consideraram as medidas de alteração nos créditos de PIS e Cofins e de novas linhas do BNDES como de "extrema importância". "É uma grande vantagem para o setor ter uma equalização das taxas de juros a de outros países", diz. Ponderou, contudo, que elas não compensarão as perdas com o dólar.

O aumento da fiscalização nos importados foi a mais bem vista entre as medidas anunciadas. No entanto, também foi recebida com ressalvas. "Uma ação voltada a inibir a importação ilegal deveria ser parte de uma política de governo e não parte de um pacote para os exportadores", disse Marchewsky.

"Aplaudimos o pacote, mas enquanto o governo não passar o custo Brasil a limpo e não promover as reformas tributária, fiscal e trabalhista, não vai nos devolver a competitividade perdida", afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Élcio Jacometti.

Jacometti reconhece o "esforço admirável" do governo em buscar mecanismos que ajudem os exportadores. No entanto, vê com certo ceticismo o anúncio de medidas como o aproveitamento imediato dos créditos de PIS e Cofins obtidos na compra de bens de capital. "Já está difícil para receber os créditos acumulados nas exportações."

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário, José Luiz Dias Fernandes, destacou a necessidade de medidas de efeito imediato, e não apenas sobre investimentos. "Esperávamos a ousadia maior por parte do governo, por exemplo com desoneração da folha de pagamento, dos encargos, porque as perdas com o dólar foram muito grandes."

Segundo o gerente de marketing da West Coast, fabricante de sapatos masculinos de Ivoti (RS), Sérgio Baccaro Júnior, a idéia de linhas de crédito subsidiadas já vinha sendo cogitada, mas não resolve os problemas das empresas que, após anos de prejuízo, sequer têm condições de tomar financiamentos. "Não queremos dinheiro emprestado, precisamos é recuperar a condição de produzir no Brasil", afirma.

Para Maria Lucrecia Calandro, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), o novo pacote do governo dá um "alívio temporário" para o setor calçadista, mas não mexe nas questões principais, que são o câmbio valorizado e a necessidade de reconversão das empresas. Segundo ela, o setor precisa aprofundar o movimento de busca de nichos de mercados mais sofisticados para escapar da concorrência asiática e se preparar para produzir menos e com estruturas mais enxutas.

Na avaliação da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), o maior problema do pacote é que está concentrado em apenas alguns setores. "Se fosse para todo o comércio exterior, teria sido fantástico", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB. "Como o governo sabe quais os setores estão sofrendo com o câmbio?", questiona Carlos Cavalcanti, diretor-adjunto do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp.

O presidente em exercício da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Bolívar Moura, em nota, disse que o pacote é um "primeiro passo", mas ainda não resolve os problemas dos exportadores. (Colaborou Raquel Landim)