Título: STJ descarta irregularidade em conversas de ministro
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2007, Política, p. A10

O Ministério das Cidades informou ontem que uma revisão feita pela Polícia Federal nas gravações telefônicas da Operação Navalha não encontrou nenhum diálogo entre o ministro da pasta, Márcio Fortes, e supostos lobistas da construtora Gautama. A informação teria sido dada ao ministério pela própria PF. " A polícia me autorizou a divulgar, agora à noite, que não foi encontrada nenhuma conversa minha nem com Sérgio Sá nem com Flávio Candelot " , disse o ministro ao Valor.

Ainda segundo o ministro, até há referências a ele nas gravações, mas nenhuma de conteúdo desabonador. Fortes acredita que as denúncias sejam fruto da uma confusão entre o seu nome e o de um funcionário do ministério, chamado Márcio Galvão, que efetivamente teria conversado com pelo menos um dos lobistas. Fortes disse não saber, porém, se o conteúdo dessas gravações compromete ou não o servidor.

Mais cedo, o Ministério Público Federal e a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), já tinham afirmado que não foram encontrados indícios de irregularidades envolvendo o ministro Márcio Fortes nas gravações feitas durante as investigações que deflagram a Operação Navalha. Segundo os responsáveis pelo inquérito, o conteúdo das gravações "foi considerado irrelevante para a investigação do esquema que seria operado pelo dono da Gautama, Zuleido Veras".

Escaldada pela sucessão de críticas que vem recebendo por suas recentes atuações, a Polícia Federal, por sua vez, negou que tenha grampeado os telefones do ministro Márcio Fortes. Segundo a assessoria da PF, a instituição não fez nenhum pedido junto ao Supremo Tribunal Federal para instalar escutas telefônicas no gabinete do ministro das Cidades. Essa prática seria obrigatória, já que, como ministro de Estado, Fortes só pode ser investigado com autorização do STF.

A PF não descartou, mas também não confirmou a possibilidade de que os grampos colocados para investigar o lobista Sérgio Sá tenham captado diálogos do lobista com o ministro Fortes. A justificativa para o silêncio da PF é de que as escutas envolvem "milhares de ligações, todas em segredo de justiça".

Márcio Fortes já tinha afirmado, na manhã de ontem, "não se lembrar" de ter feito qualquer contato telefônico com o lobista Sérgio Sá. Mas pediu revisão para ter certeza. Aos seus correligionários, passou tranqüilidade, assegurando que não há o que temer. "Se tiver de fato alguma gravação, podem divulgar", disse ele ao senador Francisco Dornelles (PP-RJ).

Os integrantes da bancada do PP na Câmara e no Senado garantiram que não há porque temer uma repetição do episódio Silas Rondeau. O ex-ministro de Minas e Energia, suspeito de ter recebido recursos da empreiteira Gautama - numa operação, coincidentemente, intermediada por Sérgio Sá - jurou inocência todo o tempo, mas acabou sendo exonerado pelo presidente Lula "para não ficar sangrando até a última gota, diariamente, nas manchetes de jornal", afirmou Lula, à época.

O líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (PP-BA), afirmou que "não se pode julgar ou condenar alguém apenas com bases em informações veiculadas na imprensa". E demonstrou total confiança na idoneidade do ministro do PP. "Confiamos plenamente em Márcio Fortes. Esse episódio não altera em nada o prestígio dele conosco e com o presidente Lula", completou o líder pepista.

O senador Francisco Dornelles (PP-RJ), especulado como possível sucessor de Fortes caso este tenha que deixar realmente a pasta, afastou qualquer possibilidade de troca de comando no Ministério das Cidades. "Fortes é um homem preparado, que vem fazendo um excelente trabalho. Ele tem o apoio total do partido, incluindo o meu", completou.

Recém confirmado como vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), garantiu desconhecer qualquer rumor de saída do ministro Márcio Fortes. Segundo ele, mesmo que o ministro tenha de fato conversado com o lobista, isso não quer dizer, necessariamente, que tenha cometido algum tipo de crime. "Eu, por exemplo, atendo todo mundo que me liga. Você não pode ser condenado simplesmente por falar com A, B, ou C", relatou.

Afastado do cenário político nacional desde o escândalo do mensalão, alegando problemas de saúde, o tesoureiro licenciado do PP, José Janene (PR) foi outro que defendeu Fortes. Classificou o correligionário de "homem sério, respeitado e que conta com o total apreço do presidente Lula". Elogios ostensivos também a Dornelles. Mas ele nega que haja uma disputa pelo cargo. "Dornelles não entra em bola dividida e jamais provocou divisões no partido", assegurou. (Com agências noticiosas)