Título: Mina desativada dará lugar a condomínio
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2007, Empresas, p. B9

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) anuncia hoje um novo investimento e, desta vez, não se trata da exploração de minério de ferro em mais uma mina. A nova aposta da mineradora é um complexo imobiliário de 200 hectares que será construído onde operava, até 2002, a mina de Águas Claras.

O empreendimento, na divisa entre os municípios de Belo Horizonte e Nova Lima, é resultado de um estudo que a companhia vinha desenvolvendo há seis anos com base nas projeções sobre o crescimento da capital. O projeto contemplará dez usos urbanos diferenciados, mesclando áreas residenciais com áreas comerciais. Haverá, por exemplo, uma área de ocupação restrita a hotéis.

A principal âncora da área empresarial será a sede administrativa da própria mineradora. Hoje, a Vale tem escritórios alugados em diferentes edifícios em Belo Horizonte. O novo centro, em Águas Claras, reunirá todos os escritórios das diferentes unidades da Vale em Minas.

Quem já viu o projeto garante que trata-se de plano totalmente inovador, diferente de tudo que já existe na capital mineira. A expectativa é de que o empreendimento represente a criação de 20 mil novos empregos e atraia um fluxo diário de 50 mil pessoas. Haverá alteração no tráfego da região, com abertura de acesso exclusivo para o complexo Águas Claras a partir da BR 040.

A área da exaurida da mina de Águas Claras pertence a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), hoje controlada pela Vale. A cava da mina será transformada num grande lago. No entorno deste lago é que será construído o complexo imobiliário.

De acordo com informações do governo de Minas, uma audiência pública está marcada para o próximo dia 25, para explicar à população os impactos do loteamento de Águas Claras. Hoje à tarde, a Vale apresentará o projeto à imprensa. A empresa não quis confirmar, ontem, o valor do investimento.

"A presença da Vale trará empresas complementares, renda e empregabilidade", comemorou o prefeito de Nova Lima, Carlos Roberto Rodrigues (PT). Município que faz limite como Belo Horizonte na zona mais nobre da cidade, a zona sul, Nova Lima é hoje considerada a cidade mais dinâmica na economia mineira e uma das que mais têm crescido no país.

O novo complexo da Vale pode ser o mais inovador mas não é o primeiro grande empreendimento imobiliário na região. Vários condomínios residenciais de luxo surgiram nos últimos anos, atraindo também grandes empreendimentos comerciais. A mineradora de ouro AngloGold Ashanti foi a primeira a transformar uma mina desativada, a Morro Velho, num condomínio de luxo, o Vale dos Cristais.

A Vale também não é a primeira empresa a transferir para lá sua sede administrativo. O grupo Fiat foi um dos pioneiros na região, construindo lá seu prédio administrativo - o edifício Piemonte - para onde levou também a sede administrativa da Iveco, montadora de caminhões do grupo italiano.

Tratado com muito sigilo pela Vale nos últimos seis anos, o projeto Águas Claras alimentou muitos boatos em Nova Lima, como o de que a mineradora passaria a ser uma empresa mineira, transferindo sua sede do Rio de Janeiro para o Estado. A informação, claro, não procede. A manutenção da sede no Rio é uma das cláusulas do edital de privatização da companhia.