Título: Montadoras levam propostas a Mantega
Autor: Lamucci, Sergio e Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2007, Brasil, p. A3

Representantes da indústria automobilística apresentaram ontem ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, um conjunto de propostas para estimular o investimento e as exportações do setor, que, segundo eles, se aproxima do limite de sua capacidade produtiva. As idéias envolvem redução do custo financeiro e tributário e melhora das condições para investir. No entanto, o ministro e os executivos do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças) e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não deram detalhes dos projetos. Mantega disse que nos próximos "20 a 30 dias" o governo poderá dar respostas concretas às propostas, mostradas a ele num almoço em São Paulo.

"Eu gostei das propostas. São muito bem elaboradas e bem articuladas. Elas serão analisadas com atenção. Acho que uma boa parte delas é exeqüível", afirmou o ministro, para quem as idéias podem desembocar numa "política industrial para o complexo automobilístico brasileiro". Elas serão analisadas pelo grupo encarregado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de discutir o segmento. "Vamos enfrentar esse desafio e criar as condições para que o complexo automobilístico possa enfrentar a China, a Ásia, os carros japoneses e possa duplicar a produção nos próximos anos."

O ministro disse ainda que, nas próximas duas semanas, o governo vai anunciar "algumas medidas que já constituirão um estímulo para o setor exportador automobilístico", mas que não as revelaria "nem sob tortura". Ao que tudo indica, ele se referiu às medidas de desoneração tributária em estudo há algum tempo. As propostas do Sindipeças e da Anfavea, segundo ele, "vão além dessas medidas".

No mercado interno, as coisas vão muito bem para o setor automotivo. O presidente da Anfavea, Jackson Schneider, revelou que, de janeiro a maio, as vendas domésticas de veículos cresceram 24% em relação ao mesmo período de 2006. Isso ajuda a explicar por que o segmento está próximo de atingir o limite da capacidade instalada. O setor prevê uma produção de 2,8 milhões de unidades neste ano e tem uma capacidade produtiva de 3,5 milhões. A questão, segundo Schneider, é que esse número se aplica ao segmento como um todo. "Algumas indústrias, porém, já enfrentam efetivamente alguma dificuldade de produção e já estão trabalhando até com três turnos".

Nesse quadro, é necessário tomar decisões importantes de investimento, o que explica por que a Anfavea e o Sindipeças apresentaram as propostas ao ministro. Outro desafio da indústria automobilística é a redução das exportações neste ano, devido ao câmbio valorizado. Nos quatro primeiros meses do ano, as vendas externas de veículos montados caíram 9,5% na comparação com o mesmo período de 2006. Segundo Mantega, as propostas não incluem sugestões para o câmbio.

As idéias começaram a ganhar forma quando, há cerca de um mês, o Ministério do Desenvolvimento, criou um grupo de estudos sobre competitividade para a indústria automobilística. A idéia é elaborar um detalhamento dos motivos que começam a levar as fábricas de veículos instaladas no país a perder vendas externas par outros países. Animados com a iniciativa, os executivos do setor começaram a juntar material para mostrar tanto ao Desenvolvimento quanto à Fazenda.

Antes mesmo da criação desse grupo, o Sindipeças já havia apresentado à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, um esboço das suas propostas, que incluíram a criação de linhas de financiamento com recursos do BNDES para pequenas empresas. Elas são as que encontram maior dificuldade de investir em expansões para acompanhar o crescimento do mercado.. Segundo o Sindipeças, o setor precisaria investir R$ 2 bilhões num prazo que hoje está em 12 meses para ampliar a capacidade.

A necessidade de investimento apareceu em pesquisa feita pelo Sindipeças, na qual 38% das empresas disseram ter alguma dificuldade para aumentar a produção e 10% apontaram atrasos de entregas para montadoras. Como as pequenas empresas encontram dificuldades em obter financiamentos, porque muitas têm dívida com o Fisco, o Sindipeças também pretendia propor ao governo isenção de Imposto de Renda para lucros incrementais que forem utilizados em investimento.

A indústria automotiva encontrou ainda uma forma de propor redução da carga tributária. Também o Sindipeças elaborou uma proposta para reduzir impostos aproveitando a possibilidade de o país acumular créditos de carbono. A idéia é colocar um equipamento de medição de consumo de álcool nos carros. A quantidade de álcool acumulada iria para um banco de créditos de carbono que o país poderia vender. Em troca, o consumidor ganharia desconto no IPVA do carro e a indústria automobilística redução de impostos. Outro item que já faz parte dos estudos do setor, está relacionado à aprovação da lei de inspeção veicular. Os fabricantes de autopeças propõem que os carros fabricados antes de 1992 sejam gradativamente retirados das ruas.