Título: Empresas já obtêm crédito de seis anos
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2007, Finanças, p. C1

Com as empresas retirando da gaveta projetos de investimentos, os bancos começam a oferecer linhas especiais com prazos mais longos. Recursos para capital de giro de até seis anos já são bastante freqüentes, para complementar repasses do BNDES, e empréstimos-pontes para antecipar emissões no mercado de capitais chegam a dois anos.

Segundo o vice-presidente do Bradesco, Norberto Barbedo, a demanda por crédito está muito aquecida, pois as grandes e médias empresas estão em processo de investimento. "A procura é principalmente de empresas de commodities, que precisam ampliar a capacidade produtiva e a eficiência para competir no mercado externo", avalia. Ele explica que pequenos investimentos têm elevado a capacidade dessas empresas, principalmente as exportadoras, em 15% a 20%.

O vice-presidente do Banco Real, João Roberto Teixeira, lembra ainda que as companhias aproveitam o bom momento para financiar aquisições, como foi o caso da Vale do Rio Doce, e para reestruturar dívidas antigas. Cerca de 20% da carteira do banco já foi alongada. Ele destaca ainda o setor de infra-estrutura com "uma série de operações em análise", comenta.

De fato, os dados do Banco Central confirmam essa tendência. O saldo das operações com prazos acima de três anos foi a que mais avançou nos últimos 12 meses, 42%, atingindo R$ 72 bilhões, em março. Os empréstimos de um a três anos subiram 27%, para R$ 82,5 bilhões, enquanto dinheiro de curtíssimo prazo (inferior a seis meses), 15%, para R$ 182 bilhões.

Entre as linhas tradicionais, o capital de giro, cujo saldo atingiu R$ 70 bilhões em março, são as que mais avançaram em termos de prazo e a média já supera um ano (377 dias). As linhas com taxas flutuantes, atreladas a CDI, e que hoje representam mais da metade do total (56%), têm avançando devido à perspectiva de queda da Selic.

O diretor do Banco do Brasil, Sidney Passeri, explica que o funding desses empréstimos é feito internamente pela mesa de captação do próprio banco. "O crédito para empresas de médio e grande portes no Banco do Brasil teve um crescimento excepcional, de 11%, nesses cinco primeiros meses em relação a dezembro", comemora. Historicamente, lembra o diretor, o segundo semestre é ainda melhor. A carteira total está em R$ 50 bilhões (dados de maio) e o capital de giro avançou 28% no ano passado.

O Banco Real também já conta com linhas de capital de giro com prazos superiores a cinco anos para o segmento de médias empresas, com faturamento de até R$ 150 milhões, explica o superintendente executivo do segmento, Altair Assumpção. "Essas são linhas ou para readequação de passivo ou para complementação de repasse do BNDES".

Segundo ele, parte dos recursos utiliza como funding captações no exterior, que se vale da Resolução 2770, antiga 63, que permite o repasse para empresas de captações em dólares feita pelos bancos. "Os empréstimos são prefixados, com hedge no Brasil, ou flutuantes, em geral, com indexação ao real e ao dólar", completa o executivo.

No Bradesco, os empréstimos-ponte têm crescido de forma acentuada, explica Barbedo. Esses recursos são adiantamentos de operações no mercado de capitais, como emissão de debêntures ou títulos no exterior. Muitas empresas exportadoras têm usados, ainda, linhas de pré-pagamento, mas com recursos em dólares, de US$ 100 milhões em média e com prazos de até sete anos, sendo dois anos de carência, para implantar projetos de melhorias na produção.

Outro destaque têm sido as linhas de desembolsos do BNDES, para investimentos, que são naturalmente mais longas por se tratar de recursos de banco de desenvolvimento. No Banco do Brasil, por exemplo, os desembolsos cresceram 120% nos últimos doze meses. As linhas para operações turn-key (acima de R$ 10 milhões), em que a empresa é financiada em toda a operação, também tiveram forte crescimento, comenta Passeri.

Já as grandes se valem da grande liquidez do mercado internacional para se financiar no mercado. "As médias ainda dependem muito do balanço dos bancos, mas o processo para elas também acessarem está bastante acelerado", avalia o vice-presidente do Banco Real.