Título: Revisão urgente
Autor: Knapp, Laura
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2007, Caderno Especial, p. F1

A procura por soluções mais amigáveis ao meio ambiente vem se disseminando por todos os setores industriais, seja por exigência dos consumidores finais de bens de consumo, seja pelos compradores de soluções industriais. Da mineração aos cosméticos, a onda do "verde" exerce pressão cada vez maior sobre o processo fabril das empresas. "De maneira geral, as empresas estão atentas a como se portar ecologicamente", diz Marcos Tadeu Pereira, diretor de operações e negócios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo. O velho slogan usado por governos, que incitavam as indústrias a trazer "suas chaminés" em troca de incentivos fiscais, está totalmente fora de moda.

O número de consultas ao IPT em busca de soluções ecológicas aumentou sensivelmente nos últimos tempos. Tanto que levou o IPT a criar, há cerca de um ano, o Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas (Cetae). Ali, cerca de 80 pesquisadores de diversas áreas trabalham para solucionar ou mitigar problemas relativos à poluição, a fim de adequar as indústrias à nova fase.

Pelo menos uma vez por mês a agência recebe uma delegação de representantes de mineradoras preocupados em implantar um processo industrial mais "limpo". Isso fora as equipes de pesquisadores que saem a campo para prestar consultoria às empresas. "Isso acontece até por dificuldades de exportação, por restrições na Europa", diz Pereira.

A busca das mineradoras tem sido por processos novos para o tratamento da lama, ou material vermelho, resultante do processo da lavra. Elas querem saber o que fazer com esse excedente. É possível transformá-lo em cerâmica? Aglomerá-lo ao asfalto? Ou resolver a questão in loco, onde é produzido? E o que fazer para aprimorar a fabricação de cimento? Uma das soluções pesquisada pelo IPT é o da microencapsulação, tecnologia criada para incorporar sulfato ferroso à farinha e assim alimentar crianças anêmicas, mas que pode ser utilizada em vários tipos de atividade. A tarefa do instituto agora é estudar como aglomerar cromo, um dos subprodutos do cimento, para que se fixe ao próprio material, eliminando o excedente. "É uma técnica nova de nanotecnologia", diz Pereira.

Entre as preocupações das indústrias com o meio ambiente está a já conhecida emissão de particulados em chaminés. Não há uma solução fácil, mas o instituto vem desenvolvendo novos tipos de bocais de injeção de combustível na fornalha. Com uma mistura adequada, a emissão de particulados tende a diminuir. A peletização, ou aglomeração de materiais metalúrgicos também leva a uma redução da emissão quando o metal é queimado ou fundido. São processos que podem evoluir para serem utilizados também nas plantações de cana-de-açúcar. Depois da colheita, a aglomeração da palha ou pedaços da cana em pellets pode possibilitar que eles sejam exportados, para queima em fornos industriais em outros países.

"Há uma demanda para que as empresas tenham processos mais limpos", diz Arthur Whitaker de Carvalho, diretor titular adjunto do Departamento de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Até por pressão da comunidade, de ONGs, de ambientalistas". De acordo com ele, as indústrias passaram a fazer um esforço maior pelo meio ambiente a partir da Eco-92, a segunda Conferência Mundial para o Meio-Ambiente e Desenvolvimento, mas já vinham se modernizando desde 1977, com a implantação da legislação em São Paulo.

"Atender somente parâmetros legais já está para trás", afirma Carvalho. A contribuição para o meio ambiente é mais global, até por questão de custo".

Um levantamento feito em conjunto pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) mostrou que 33% das maiores indústrias brasileiras inovam e que um terço dessas inovações são feitas na área ambiental, com conservação de energia e reuso de água, por exemplo, de acordo com o diretor da Fiesp.

Para encarar os desafios ecológicos, mas em futuro mais distante, a Promon criou um centro de pesquisas voltado à discussão sobre o rumo e a perspectiva de novas tecnologias. "Nossa percepção é de que há poucos fóruns sobre tecnologia emergente e seus impactos", diz Ricardo Correa, diretor do Instituto de Tecnologia Promon (ITP).

Por enquanto, os esforços estão focados em três áreas afins da empresa: energia, desenvolvimento sustentável e tecnologia da informação. De acordo com Correa, um estudo da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) revelou que no Brasil há recursos para investir em equipe e gestão, que a indústria investe em maquinário, mas que em termos de know-how, de conhecimento, o aporte de recursos fica aquém.

O primeiro seminário do IPT foi realizado em abril, a portas fechadas, e versou sobre a produção de etanol, já que a geração de energia a partir de matéria-prima renovável responde por parcela significativa no país.

"É uma oportunidade ímpar para o Brasil. Há novas tecnologias surgindo, com impacto na cadeia produtiva", afirma Correa. Na produção de energia em hidrelétricas, usinas de óleo e gás, na petroquímica, é preciso investigar como tornar esses processos sustentáveis, pelo conceito mais recente de cuidados com o meio ambiente. Por exemplo, as usinas termelétricas exigem muita água para seu resfriamento, mas saber qual a melhor técnica de engenharia para reduzir esse consumo não era uma preocupação antes, afirma. "Existe uma maior consciência do investidor industrial de que o processo deve ser sustentável." No caso do etanol, a questão é como aumentar a produção sem aumentar na mesma proporção a área plantada, ou como gerar a mesma quantidade ou mais de energia com a mesma quantidade de bagaço.

Em suma, atualmente para uma indústria ser mais competitiva, precisa contar com processos sustentáveis. Portanto, a grande questão é como equalizar sustentabilidade e competitividade. Há dez anos, diz Correa, acreditava-se que gastos maiores com o processo industrial, inclusive para torná-lo mais limpo, reduziam a competitividade da empresa, verdade que não se aplica mais. "Esse é o caminho, não tem jeito, se não queremos destruir o meio ambiente", afirma. "Há uma mudança de consciência."

As discussões do IPT têm como objetivo criar uma visão de conjunto das novas tecnologias, de sistematização e de como avaliar e definir futuros investimentos, sob perspectivas que interessam aos clientes da empresa.

Além dos fóruns, o ITP está em negociação com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para estabelecer um acordo que pode incluir a identificação de novos talentos e a criação de bolsas de estágio. A idéia é também levar para a academia a percepção sobre novas demandas do setor empresarial e estimular talentos que queiram desenvolver novas áreas. Talvez até financiar estudos, no modelo feito por algumas universidades americanas, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), mas sem delimitar muito a área de estudos ou limitar a criatividade própria dos laboratórios acadêmicos.

No outro extremo da cadeia de consumo, a L'Oréal lançou mão da química verde para desenvolver o Pro-Xylane, creme indicado para combater o envelhecimento da pele. A molécula é manipulada a partir da xilose, açúcar natural da faia, árvore usada abundamente no replantio florestal na Europa. Além da matéria-prima renovável, o processo de fabricação do Pro-Xylane requer uma síntese otimizada para usar menos energia e produzir menos dejetos, usando água como solvente.

"Faz parte da carta-magna da L'Oréal, há 20 anos, desenvolver produtos que colaborem com o meio ambiente", afirma Nathalie Pineau, pesquisadora da empresa, no Brasil para fazer o lançamento do produto. Pela tabela de agressão à natureza, onde 5 é o mais amigável e 80 o pior, o Pro-Xylane fica no nível 13, de acordo com a fabricante. Todos os produtos da empresa, diz ela, têm ingredientes ativos que seguem a cartilha de serem biodegradáveis, não bioacumuláveis e não ecotóxicos.

Mas o Pro-Xylane é o primeiro ingrediente ativo orientado para ser verde desde o começo da pesquisa, iniciada há sete anos, ao custo de centenas de milhares de euros. Em 2006, a L'Oréal investiu 532,2 milhões de euros em pesquisa e desenvolvimento, equivalente a 3,4% de suas vendas.

As embalagens do novo produto também seguem a linha "ecoamigável", sendo cada vez mais recicláveis e os frascos, do menor tamanho possível.