Título: Prefeituras trocam lâmpadas públicas
Autor: Pavani, Vilma
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2007, Caderno Especial, p. F4

A rede de iluminação pública no Brasil, que leva energia para postes e praças, quer economizar parte da força que faz o país funcionar. O Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente-Reluz, do governo federal, é a principal arma dessa dieta energética: pretende substituir todas as lâmpadas de vapor de mercúrio das ruas por unidades de vapor de sódio, 30% mais econômicas. A cidade de São Paulo, por exemplo, dona do maior acervo de iluminação do mundo, já economizou R$ 600 mil com a iniciativa.

"Criado em 2002, o programa pretende deixar o sistema elétrico do país mais eficiente e liberar, a médio prazo, a energia para outras aplicações", explica Walter Bellato, diretor do Ilume-Departamento de Iluminação Pública, órgão da prefeitura de São Paulo responsável pela iluminação do município.

O Programa Reluz consiste, basicamente, na troca das lâmpadas de vapor de mercúrio, de luz branca, por unidades de vapor de sódio, de cor amarela. Os equipamentos baseados em sódio duram mais - de 16 mil a 32 mil horas -, têm maior poder de luminosidade e são 30% mais econômicos que os modelos de mercúrio.

Para se ter uma idéia, há cerca de 13 milhões de pontos de iluminação pública no Brasil. A rede corresponde a 3,4% do consumo total de energia elétrica do país ou 10,3 bilhões de kWh/ano. "Segundo levantamento do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), da Eletrobrás, 46,21% desses pontos estão na região Sudeste, 21,3% no Nordeste, 19,1% no Sul, 9,4% no Centro-Oeste, e 3,8% no norte do país", lembra o professor Mário Sérgio Cambraia, especializado em iluminação pública e coordenador do Centro Federal de Educação de São Paulo (Cefet/SP).

Em São Paulo, considerada a cidade com a maior rede de iluminação pública do mundo - são cerca de 530 mil pontos, contra 150 mil lâmpadas das ruas de Paris, por exemplo - o Reluz já mudou 107 mil unidades ou 20% da extensão dos logradouros. A substituição resultou, até hoje, em uma economia de R$ 600 mil na conta de energia do município, que consome mensalmente 50 mil MWh.

Até dezembro, a meta é substituir mais 135 mil lâmpadas, priorizando bairros carentes e regiões centrais, onde os postes de rua têm maior potência. "Em 2008 ano, vamos trocar mais 110 mil unidades, erradicando totalmente as fontes de vapor de mercúrio da cidade", diz Bellato. Até o final do programa, estima-se uma diminuição mensal de 30% na fatura de energia da cidade - um corte de R$ 3 milhões.

Em relação ao sistema elétrico brasileiro, o projeto Reluz de São Paulo deve permitir uma redução diária de 42,3 MW de potência na demanda do horário de pico, no Sudeste - volume suficiente para atender 80 mil residências.

Segundo Bellato, a prefeitura também estuda outras ações de economia no consumo. Uma delas é a adoção de um sistema de dimerização, já usado nos Estados Unidos e na Europa, que controla a intensidade das luzes em grandes avenidas, de acordo com o clima, condições da pista e do tráfego de veículos. "Em alguns locais, foi obtida uma redução de até 35%".

Outra solução é o uso dos diodos emissores de luz ou leds. Segundo Bellato, a tecnologia aparece como uma tendência por conta das dimensões reduzidas, durabilidade, fidelidade na reprodução de cores e baixo consumo. Para atingir o mesmo resultado de uma lâmpada de 40 W (watts), há leds que consomem apenas 4 W.

Para Ricardo da Silva David, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Conservação de Energia (Abesco), o consumo de energia para iluminar as cidades pode ser reduzido com a ajuda de um modelo batizado no setor como gestão completa - que equilibra qualidade de serviços com um menor gasto energético.

"A oferta da iluminação urbana deve se apoiar em sistemas de informação que possam, por exemplo, monitorar a quantidade das lâmpadas acesas à noite e controlar a potência de luz, adequando os níveis luminosos às necessidades de cada espaço urbano", diz.

Experiências de gestão eficiente estão sendo implementadas em cidades como Brasília, Fortaleza, Manaus, São Luís, Belém, Maceió e Olinda. Em Fortaleza, por exemplo, o consumo por ponto luminoso caiu em média 25% entre 2003 e 2006.

A receita, aplicada pela empresa Citéluz, responsável pela iluminação pública da capital cearense, inclui a substituição de equipamentos pouco eficientes. "Na BR-116, que começa na cidade, as luminárias equipadas com oito lâmpadas de 400 watts ganharam duas fontes de 600 watts, além de uma melhor qualidade de iluminação", diz David.

O governo federal estimula os municípios a correrem atrás da economia energética. No final de maio, a cidade de Serra, no Espírito Santo, recebeu da Eletrobrás o Prêmio Procel de Cidade Eficiente em iluminação pública.