Título: Novos modelos já estão preparados para poluir menos
Autor: Ramos, Tagil
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2007, Caderno Especial, p. F5

No coração do primeiro veículo que saiu da fábrica do grupo CAOA, inaugurada em abril, pulsava um motor Euro III. O caminhão de pequeno porte da Hyundai, modelo HR, obedece, dessa forma, à legislação de emissões de poluentes Conama Fase V (Euro III). A obrigação da lei, que entrou em vigor no início de 2006, tornou-se hoje uma regra de mercado. Montadoras e fabricantes de transporte de carga e ônibus lançam produtos já preparados para minimizar os efeitos da poluição, numa sociedade cada vez mais preocupada com a qualidade do ar que se respira.

"Um comercial leve tem um menor impacto no meio ambiente", defende Annuar Ali, vice-presidente do grupo CAOA. No final do ano, a empresa pretende colocar 5 mil unidades desse modelo, cuja capacidade de 1,8 tonelada o torna ideal para transporte de pequenos lotes de mercadorias. Sua categoria não exige habilitação profissional, o que pode atrair empreendedores que desejam entrar no competitivo mercado de transporte de cargas. O motor tem capacidade para 2,5 litros e 4 cilindros em linha, gerando 94 cv a 3.800 rpm.

Independentemente do tamanho, os novos caminhões que chegam ao mercado estão em conformidade com a idéia do "ecologicamente correto". A linha Axor, de superpesados, da marca Mercedes-Benz, trabalha com duas famílias de motores Euro III (OM-926 e OM-457), que buscam reduzir o consumo de combustível, sem prejudicar o desempenho durante acelerações e retomadas.

O cuidado com o meio ambiente não está somente no caminhão. Novas fábricas embutem procedimentos corretamente ecológicos em suas operações. Mais uma vez, trata-se de uma tendência do mercado mundial. Para exportar, as montadoras precisam ter plantas e processos homologados pela chamada "legislação verde".

Caminhões, ônibus e processos caminham, assim, na direção de um futuro menos poluente, acredita-se. Nos novos modelos produzidos pela sueca Volvo, por exemplo, não entram materiais agressores ao meio ambiente, como o amianto. "Eles fazem parte de nossa lista negra", conta Alexandre Parker, planejador do produto da Volvo do Brasil. Mas nem tudo que é nocivo à natureza pode ser evitado. Existe ainda uma "lista cinza", composta por materiais usados nos modelos antigos e que ainda não encontram substituição adequada na linha de produção.

A Volkswagen Caminhões e Ônibus tem lançado veículos com motores Euro III desde 2004, segundo o diretor de vendas e marketing José Ricardo Alouche. "Tentamos sempre andar na frente da legislação", aponta Alouche. "Mas, algumas vezes, as autoridades governamentais e outros ramos da cadeia não conseguem acompanhar a velocidade de implementação necessária".

Ele se refere à próxima etapa prevista de produção, que exige que os novos modelos estejam dentro das especificações Conama P6 (Euro IV). Essa etapa prevê sistemas avançados de injeção e de turbos, com pós-tratamento de gases para ganhos adicionais, motores "lean-burn" a gás e a etanol do ciclo diesel com catalisador de oxidação e híbridos com pós-tratamento de gases.

A legislação do Ministério do Meio Ambiente exige que as montadoras já estejam enquadradas dentro dos novos padrões em janeiro de 2009. Nos 19 meses que faltam, ainda não está definida uma questão essencial: a distribuição em território nacional do novo combustível que será utilizado. Para que os motores Euro IV funcionem bem, o diesel precisa ter baixa concentração de enxofre (abaixo de 50 partes por milhão- ppm). Hoje, nos grandes centros, ela é de 500 ppm e no interior, de 2.000 ppm. Além disso, um dos possíveis processos usa a uréia como solução. Para isso, seria necessário que pelo menos 10% dos postos brasileiros estivessem habilitados para fornecer essa substância.

Tornar ônibus e caminhões menos poluentes não custa barato. Mas a ação é mais do que necessária, uma vez que eles poluem, em média, três vezes mais do que os carros de passeio. O investimento tecnológico feito pelas fabricantes de componentes e montadoras é repassado para o consumidor final. Um veículo com motor Euro III chega para ele 10 a 20% mais caro que o da geração anterior. "A solução para a emissão de poluentes aponta para renovação da frota", explica Domingos Carapinha, gerente da área de performance e emissões da MWM International Motores, fabricante de motores a diesel que fornece para cerca de 80% das montadoras do Brasil. "É inviável economicamente fazer um upgrade de um Euro II".

Outras experiências estão sendo feitas para reduzir o consumo de diesel e, conseqüentemente, minimizar o seu efeito poluidor na atmosfera. A americana Eaton Corporation, fabricante de sistemas inteligentes de transmissão e economia de combustíveis, caminha nessa direção. A empresa já produz em pequena escala modelos de motores híbridos. Eles já rodam em frotas de empresas nos Estados Unidos, como Coca-Cola, Fedex e Wal-Mart.

"O sistema híbrido pode trazer uma economia de até 50% do combustível utilizado", informa Adilson Dividino, diretor de desenvolvimento e engenharia da Eaton do Brasil. O conceito desse tipo de motor é engenhoso. Utiliza a energia calórica gerada no momento em que o motorista pisa no freio e a armazena sob a forma de energia elétrica, que será reutilizada no veículo.

"Essa tecnologia pode ter uma aplicação interessante no transporte urbano", aponta. "As inúmeras freadas do trajeto de um ônibus estariam carregando energia e reduzindo significativamente o consumo de óleo diesel". Esse tipo de solução tem sido mostrado ao mercado, mas o alto investimento inicial exigido não tem animado os empresários a adotá-lo.

O investimento em novas tecnologias está previsto na avaliação do Ministério do Meio Ambiente, que considera a redução das emissões positiva. Segundo o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que completou 20 anos de implantação no país, a redução na emissão de gases em foi de mais de 90% nos automóveis e acima de 80% em ônibus e caminhões.