Título: Problemas continuam nas "guseiras"
Autor: Menezes, Lizete Teles de
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2007, Caderno Especial, p. F7

Apesar da preocupação das siderúrgicas com o meio ambiente, focos de problemas ambientais persistem, principalmente entre empresas do Norte do país, as chamadas "guseiras".

Estudos realizados pelo pesquisador Maurílio de Abreu Monteiro, professor do núcleo de altos estudos amazônicos da Universidade Federal do Pará (UFPA), constatam que na Amazônia Oriental brasileira (composta pelos estados do Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso), 57,5% da madeira transformada em carvão vegetal são provenientes de desmatamento não autorizado. O carvão vegetal alimenta os fornos das produtoras locais de ferro-gusa, matéria-prima para a fabricação do aço.

Técnicos da Embrapa Amazônia Oriental, em artigo publicado na revista Ciência Hoje (dezembro/2006), relembram que a produção de carvão vegetal, em fornos conhecidos como "rabo-quente", apresenta baixa eficiência e não permite o aproveitamento de subprodutos, além de ser altamente poluente e prejudicial à saúde das pessoas que se dedicam à atividade. Segundo eles, a questão ambiental na região é tão grave, que a Companhia Vale do Rio Doce, fornecedora de minério de ferro para as guseiras, preocupada com sua imagem internacional, chegou a ameaçar com o corte do fornecimento, caso as empresas não adotassem práticas ambientalmente corretas.

A Superintendência do Ibama no Pará, apoiada pelo Batalhão de Policiamento Ambiental, deflagrou a Operação Quaresma, que vistoriou oito siderúrgicas em Marabá (PA). A operação encontrou irregularidades que vão de empresas operando sem licenciamento ambiental àquelas licenciadas, mas que utilizam matéria-prima de origem nativa oriunda de desmatamentos ilegais, onde são abatidas espécies nobres como ipê, jatobá e angelim entre outras.

O Ibama aplicou mais de R$ 158 milhões em multas e apreendeu 21 mil metros cúbicos de carvão vegetal, equivalentes a 350 caminhões carregados. Outro crime ambiental flagrado foi o consumo de carvão vegetal maior do que o autorizado. Nos últimos sete anos, as siderúrgicas deMarabá consumiram 7 milhões de metros cúbicos de carvão vegetal, equivalentes a 100 mil hectares de área desmatada ou 21 milhões de árvores derrubadas ilegalmente. (L.T.M.)