Título: Siderúrgicas tentam limitar impactos
Autor: Menezes, Lizete Teles de
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2007, Caderno Especial, p. F7

A emissão de poeira e gases, geração de resíduos sólidos e líquidos, poluição da água e poluição sonora gerados no processo produtivo da siderurgia colocam o setor entre os que mais prejudicam o meio ambiente. Especialistas dizem que dos 59 tipos de gases lançados pelos alto-fornos das siderúrgicas, 28 deles são nocivos à saúde. Entre os poluentes, as micropartículas de ferro contaminam os pulmões, e suspeita-se que diversos tipos de câncer, além de doenças alérgicas e respiratórias, podem ter como causa a poluição produzida pelas siderúrgicas.

Reverter esse quadro é uma das preocupações das grandes empresas do setor, um dos mais importantes para a economia nacional, diz o consultor Antônio Carlos Porto Araújo, da Trevisan Consulti. "A situação já foi mais desconfortável. Começou a mudar a partir da preocupação mundial com o efeito estufa e a perspectiva do aquecimento global". A pressão dos governos e da sociedade civil e, principalmente, as exigências dos investidores e dos países importadores, colocaram a questão ambiental na agenda das companhias.

"Em termos econômicos, a questão é absolutamente racional. As companhias que agridem menos a natureza valorizam mais seus ativos e ganham a confiança dos investidores", afirma o consultor. Com o movimento de fusões e aquisições, na hora da negociação o passivo ambiental de uma empresa pesa e seu preço é rebaixado, observa Porto Araújo. A questão ambiental também dá as cartas quando as companhias precisam de empréstimos. Para financiar projetos de investimento igual ou superior a US$ 50 milhões, as instituições financeiras só aprovam aqueles que estejam de acordo com os Princípios do Equador, um conjunto de políticas e diretrizes sócio-ambientais estabelecidas pelo International Finance Corporation, braço do Banco Mundial.

As empresas trataram de se adequar ao novo paradigma para não perder oportunidades de negócio. Investiram em modernos sistemas de desempoeiramento (filtros), estações de tratamento de efluentes hídricos, sistemas de controle e abafadores de ruídos, na reciclagem e reutilização de resíduos sólidos e co-produtos. Para atender a alta demanda de seus processos produtivos, desenvolvem fontes próprias de energia alternativas. Além disso, aplicam em reflorestamento e na preservação de matas nativas. A meta das companhias é receber a certificação ISO 14001, padrão internacional que estabelece requisitos para um sistema de gerenciamento ambiental.

"O setor é um dos que mais investem na preservação do meio ambiente", afirma Roberto Manella, superintendente de infra-estrutura da Acesita S.A., empresa certificada com a ISO 1400. Situada em Timóteo (MG), nos últimos quinze anos a companhia aplicou R$ 135 milhões em gestão socioambiental envolvendo aquisições de máquinas, novas tecnologias e desenvolvimento de energias alternativas. O plantio de florestas de eucalipto, no Vale do Jequitinhonha, é uma opção da empresa para substituir o uso do coque mineral, altamente poluidor, pelo carvão vegetal, nos seus alto-fornos.

A Belgo-Arcelor Brasil, com 25 unidades, investiu no ano passado R$ 20,8 milhões no controle de impactos ambientais. Neste ano serão aplicados R$ 29 milhões, diz José Otávio Andrade Franco, gerente de meio ambiente. A prioridade é racionalizar o uso dos recursos naturais, reciclando e reutilizando ao máximo os resíduos sólidos e co-produtos, cujo índice em 2006 totalizou 94%, enquanto as taxas médias de recirculação de água, insumo altamente utilizado no processo produtivo, aproximaram-se de 98% no período.

No mesmo rumo, o grupo Gerdau aplicou ano passado US$ 78,8 milhões em gestão ambiental, um aumento de 2,6% sobre 2005, esforço contemplado com a ISO 14001 para 20 de suas unidades. Segundo a gerência de meio ambiente, a emissão de gás carbônico, em 2006, ficou em 593 quilos por tonelada de aço produzido, muito abaixo da média mundial do setor, de 1,7 mil quilos por tonelada.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com sede no Rio, injetou R$ 1,4 bilhão na compra de equipamentos, desenvolvimento de novas tecnologias e proteção de áreas verdes. E ganha dinheiro com sua gestão ambiental. Só com a reutilização de resíduos sólidos obtém uma economia de mais de R$ 150 milhões por ano.

Desde o início de suas operações, em 1962, a Usiminas, localizada em Ipatinga (MG), empregou mais de US$ 488 milhões em projetos de controle ambiental. Em 2006, foram 29,2 milhões de dólares. Um dos focos de investimento é a geração própria de energia elétrica. Encontra-se em fase de montagem uma nova central termelétrica, que suprirá 50% de seu consumo, elevando os atuais 58 MW para cerca de 118 MW.