Título: Linha para inovação emperra e BNDES baixa juro para 4,5% ao ano
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2007, Brasil, p. A2

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reduzirá de 6% para 4,5% a taxa de juros cobrada das empresas que buscam recursos na linha voltada para projetos de inovação. Segundo Helena Veiga, assessora da diretoria do banco, a mudança foi motivada pela redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que após sucessivas quedas, chegou a 6,5% no fim do ano passado.

Além dos juros de 4,5%, o BNDES continuará cobrando também a taxa de risco de crédito, que chega, no máximo, a 1,8% ao ano. Helena diz que o banco ainda não definiu uma data para a redução, mas enfatiza que ela será feita em breve, uma vez que o assunto já está em discussão há algum tempo na entidade.

Essa linha, lançada em fevereiro do ano passado, ainda não deslanchou. O banco tem um orçamento de R$ 1 bilhão para projetos divididos em duas vertentes: a "Inovação P, D & I", voltada para propostas de inovação radical, ou seja, que propõe novos projetos e processos. E também a "Inovação: produção" para inovações incrementais, que sejam melhoras para processos já em andamento. Até agora, porém, apenas R$ 356 mil foram liberados - 0,35% do total. As aprovações, que indicam que mais dinheiro será liberado, são maiores e chegam a R$ 16,3 milhões, valor ainda muito aquém do potencial da linha anunciada há 15 meses.

O problema não está na oferta, mas sim na demanda pelo dinheiro, já que poucos pedidos de financiamento foram recebidos pelo banco. "As empresas inovadoras têm muita dificuldade para apresentar projeto. Uma coisa é ela é ter uma idéia inovadora. Outra é ver isso como um valor, escrever um projeto e nos mandar para pleitear financiamento", explica a assessora do BNDES. Segundo ela, as empresas maiores buscam esses empréstimos, mas são poucas as propostas de pequenas e médias.

Essa situação é a oposta vivenciada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). No edital que foi lançado no ano passado a demanda por recursos para subvenção, ou seja, não reembolsáveis, chegou a R$ 1,9 bilhão, bem acima dos R$ 300 milhões que a financiadora tinha disponíveis para oferecer às empresas que apresentaram projetos na área de inovação.

A procura pela subvenção é grande, enquanto o dinheiro disponibilizado pelo BNDES para financiamento continua sem demanda. Orlando Clapp, gerente executivo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), acredita que uma taxa juros de 4,5% para o financiamento à inovação possa ser mais atrativa para as empresas, mas lembra que as pequenas e médias continuarão com as mesmas dificuldades de acesso a esse instrumento.

Clapp, que é membro da Unidade de Tecnologia Industrial do Senai, conta que as empresas atendidas pelo Senai têm recursos humanos e financeiros escassos e estão totalmente voltadas para sua sobrevivência, com foco na gestão do dia-a-dia. "A maioria não tem pessoal capacitado ou tempo disponível para redigir uma proposta de projeto que tenha condições de ser aprovada por um banco como o BNDES."

Para Roberto Nicolsky, diretor da Sociedade Pró-Inovação Tecnológica, a Protec, nem mesmo a redução da taxa de juros aumentará os desembolsos do banco federal. "No mundo todo, não se financia projetos de pesquisa e desenvolvimento, se subvenciona, porque esse tipo de investimento é de alto risco", diz Nicolsky, que organiza o IV Enitec (Encontro Nacional da Inovação Tecnológica) evento no qual o BNDES anunciou essa redução de juros, realizado nos últimos dois dias no Rio de Janeiro.

Assim como Nicolsky, Clapp também toca na questão do alto risco dos investimentos em inovação. Segundo ele, o próprio Senai, nas parcerias que realiza com as empresas, não as financia apenas, mas entra no negócio com o dinheiro e dividindo riscos com elas. Para dirimir possíveis prejuízos, a entidade realiza uma seleção criteriosa dos projetos, mas ainda assim, há sempre a possibilidade de o projeto não render. "Priorizamos aquelas propostas que têm grande potencial de incrementar as vendas e o lucro das empresas, com reflexos positivos no emprego e na renda", diz.

Nicolsky explica que as empresas só fazem empréstimos para projetos em que terão a certeza de retorno. Para ele, o BNDES está cometendo um erro técnico ao oferecer esse financiamento.

A proposta feita pela Protec, antes do lançamento dessa linha era a de que o banco dividisse o risco dos projetos com as empresas. A idéia, como conta o diretor, era que o banco adiantasse o valor necessário para a companhia tocar seu projeto. E cada projeto teria um tempo de carência. Depois, no caso em que ele resultasse em um novo produto ou processo, parte dos royalties recebidos pela empresa seria usado para financiar os outros projetos apresentados ao banco

Por mais que parte dos projetos de inovação não dêem certo, já que nem toda pesquisa e desenvolvimento gera frutos para o mercado, cálculos e simulações da Protec mostraram que aqueles que vão para frente renderiam capital suficiente para bancar os demais.

A repórter viajou a convite da Protec