Título: Oferta de gás natural para empresas pode ter corte durante o Pan
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2007, Brasil, p. A4

As distribuidoras de gás natural do Rio de Janeiro, CEG e a CEG Rio, enviaram carta aos consumidores industriais do Estado convocando para uma reunião para discutir redução temporária da oferta de gás. No documento, a empresa explica que o objetivo é garantir a segurança do suprimento de energia durante a realização dos jogos Pan-Americanos, que serão realizados no Rio de 13 a 29 de julho.

A intenção é evitar é um vexame para o país, como definiu uma fonte qualificada. O tema está causando apreensão nos clientes, que ameaçam até ir à Justiça caso tenham que abrir mão do suprimento de gás.

Em carta assinada pelo diretor comercial Jerdi Grau, à qual o Valor teve acesso, a distribuidora informa que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pediu ajuda das distribuidoras de gás do Rio, São Paulo e Minas Gerais para aumentar a confiabilidade do sistema elétrico nacional durante a realização do Pan.

Ainda segundo a CEG, "prevendo uma elevação da demanda de energia elétrica, (o ONS) despachará preventivamente, de forma simultânea, algumas usinas termelétricas a gás natural com o objetivo de elevar o nível de confiabilidade do e segurança do sistema elétrico durante esse evento esportivo de grande repercussão internacional e de extrema importância para o país e para o Estado do Rio de Janeiro".

O diretor de relações institucionais da Comgás, Carlos Eduardo Bréscia, disse desconhecer o assunto. O Ministério de Minas e Energia confirma que o tema foi discutido ontem em reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), realizada no Rio, mas nega o caráter emergencial sugerido pela distribuidora.

"Não há qualquer orientação do governo ou da Petrobras de forçar um problema para a indústria, comprometendo os mercados do Rio, São Paulo e Minas por causa do Pan. A opção preferencial, até o momento, é puxar mais gás da Bolívia para o Rio", explicou o secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, Ronaldo Schuck. Segundo ele, a expectativa do governo é que até o início do Pan o Ibama já tenha concedido a licença de operação do gasoduto Campinas-Rio, que permitirá levar gás importado da Bolívia até o Rio.

Outra reunião foi marcada para a próxima semana. O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, lembrou que é atribuição do ONS garantir o suprimento de energia em eventos com grandes picos de consumo. Disse que um sistema emergencial para aumentar a segurança do suprimento de energia foi montado na Eco-92 e é repetido todo ano durante o Carnaval. "A diferença agora é que o Pan vai durar mais tempo, quase um mês", ponderou Hubner.

Na carta enviada aos clientes, a CEG informa que o ONS vai reservar gás natural para termelétricas que possam entrar em operação, caso haja algum risco de faltar energia no Rio. Apesar do ONS preferir não se manifestar, o Valor apurou que o órgão quer dispor de aproximadamente 4 milhões de m³ de gás natural/dia para ter 900 megawatts (MW) de energia das usinas TermoRio e Eletrobolt, da Petrobras, e a Norte Fluminense (da EDF) em regime de "stand by". Outra usina que ficará disponível é a térmica de Santa Cruz, de Furnas. Também foi dada ordem para que a usina nuclear Angra 1, que está em parada programada, volte a operar antes dos Jogos.

Os consumidores da CEG chamados a "contribuir" são aqueles identificados pela empresa entre os que podem usar combustível alternativo, liberando o gás para térmicas. Para esses, a Petrobras vai oferecer combustíveis substitutos - GLP e óleo combustível - pelo preço do gás natural, que é mais barato. Fonte da estatal explicou que o objetivo é testar o modelo de contratação de gás firme flexível, que implica a substituição do gás por outro energético quando for necessário para geração elétrica.

"No futuro, a Petrobras vai oferecer GLP e óleo combustível a preço de gás para quem puder substituir o gás natural temporariamente. Quem quiser contrato de gás inflexível (sem possibilidade de corte) vai ter que pagar mais", explicou o executivo.

Entre as empresas sondadas no Rio, e cujos nomes foram informados por uma fonte do governo do Estado, estão a CSN, Petroflex, Guardian, Prosint (do grupo Peixoto de Castro), Bayer e Rio Polímeros (Riopol). Juntas, elas teriam que reduzir o consumo de gás em 620 mil m³/dia. O maior corte do consumo seria da CSN. O menor seria para a Riopol, de 50 mil m³.

A CEG informa que a redução na oferta de gás só ocorrerá depois de negociação com os clientes. "Esses volumes serão definidos após essas reuniões, obedecendo o princípio de que as empresas não venham a ter perdas, buscando um processo colaborativo", explicou a assessoria da empresa. O objetivo, ainda segundo a empresa, é substituir o gás natural por um combustível alternativo, sem reduzir a produção dos clientes. As reuniões com os clientes terão a presença de representantes da Petrobras e da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços. "Somente depois será possível falar sobre as condições que serão oferecidas", informou a CEG.

Procurada pelo Valor, a CSN negou, por meio de sua assessoria, que tenha sido sondada pela CEG. Já a Bayer e a Riopol e Guardian confirmaram o recebimento. O assunto preocupa a indústria de vidro.

"Estamos muito preocupados com o horizonte de fornecimento no Estado do Rio de Janeiro e como isso afetará a produção. A indústria de vidro não é bi-energética e não pode funcionar com outro insumo de forma contínua e prolongada, só por algumas horas. Portanto a notificação da companhia de gás nos trouxe muita insegurança", disse Lucien Belmonte, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Vidro (Abividro).