Título: Denúncias podem complicar Renan
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2007, Política, p. A8

Denúncias divulgadas pelo "Jornal Nacional" podem complicar a situação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e influenciar a votação do parecer que determina o arquivamento do processo contra ele no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. A reunião do conselho está marcada para às 10h desta sexta-feira. Para os senadores, a denúncia abala os pilares da defesa. Aliados querem explicações antes da reunião do conselho.

A reportagem mostrou irregularidades em documentos apresentados por Renan para comprovar vendas de gado. O objetivo seria mostrar capacidade de arcar com pagamentos feitos à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos. O "JN" aponta problemas que vão desde endereço falso de empresas a supostos compradores que negam o negócio alegado.

Entre outras coisas, o sócio-gerente da empresa Carnal Carnes de Alagoas, João Teixeira dos Santos, diz que não comprou gado de Renan nem deu cheques a ele. O pemedebista apresentou três recibos no valor de R$ 127 mil. Outra empresa que teria comprado R$ 164 mil em bois (a GF da Silva Costa) está inativa e tem endereço falso. O gerente da fazenda de Renan revela uma quantidade de gado (1,1 mil) menor do que a apontada por Renan (1,7 mil).

Por meio de sua assessoria, Renan diz que tem como provar a legalidade das operações, com notas fiscais, guias de transporte animal e cópias de cheques.

"Vamos esperar explicações até amanhã (hoje) às 10h. A decisão do conselho poderá ser influenciada, caso Renan não consiga apresentar a documentação", afirmou o líder do PSB, Renato Casagrande (ES). Para Ideli Salvatti (SC), líder do PT, "as denúncias vão mudar o clima dos debates, mas se serão suficientes para mudar a votação, não dá para saber". Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que as novas denúncias reforçam a necessidade de Renan comparecer ao conselho para prestar esclarecimentos.

Antes do "JN", o roteiro previsto pelos líderes e integrantes do Conselho de Ética previa o arquivamento da representação do P-SOL por suposta quebra de decoro, aberto para apurar a suspeita de que Renan teria feito pagamentos pessoais com recursos de uma empreiteira.

A oposição decidiu apresentar "votos em separado" (relatórios alternativos) pedindo investigação, mas o gesto seria apenas para marcar posição e dar satisfação à opinião pública. Era dada como certa a aprovação do parecer do relator, senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), inocentando o pemedebista. Ele considera "falsas ilações" as acusações levantadas contra Renan na representação proposta pelo P-SOL.

Depois das denúncias, Cafeteira disse que não mudaria o parecer, por ser anterior a elas. Mas afirmou que os fatos apresentados na televisão teriam que ser apurados.

Com a aprovação do relatório, Renan carregaria o ônus de ter patrocinado a estratégia de arquivamento sumário da representação, sem que o conselho ouvisse qualquer depoimento ou realizasse perícia nos documentos da defesa. Foi um risco calculado. Com seus aliados, avaliou que, politicamente, quanto antes o caso fosse encerrado, melhor. Enquanto durasse o que chama de "calvário", Renan dependeria cada vez mais do apoio dos colegas.

Os aliados dele temiam o surgimento de novas denúncias, como ocorreu ontem. A disposição de enterrar logo o caso ficou patente na atuação dos pemedebistas na reunião de quarta-feira. "Temos que encerrar rapidamente para que o Senado não continue sangrando", disse o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO). "Não podemos ouvir ninguém", afirmou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).

Cafeteira apresentou seu parecer na quarta-feira, 48 horas depois de receber a representação e ter acesso aos documentos da defesa (movimentações bancárias comprovando que Renan tinha capacidade financeira de arcar com as despesas).

No mérito, a maioria dos senadores do PSDB e do DEM considera não haver provas contra Renan. Os dois partidos e o senador Jefferson Péres (PDT-AM) decidiram apresentar hoje "votos em separado" pedindo a realização de investigação, com oitivas e perícia nos documentos.