Título: Agência bancária será dentro do celular
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2007, Finanças, p. C3
A agência bancária agora é dentro do celular. O aparelho também paga contas em lojas e restaurantes e quem quiser comprar e vender ações na bolsa vai poder fazer a operação na tela do celular. Ontem, Banco do Brasil, Banco Real e Itaú anunciaram investimentos para transformar o celular em um banco que o cliente pode carregar no bolso.
O BB, que já havia lançado em 2005 operações bancárias como consulta de saldo e transferências pelo celular, transformou agora o aparelho em meio de pagamento. Em parceria com a Visanet, a empresa que cadastra estabelecimentos comerciais para os cartões Visa, o banco lança em setembro o produto. Por enquanto, faz testes em São Paulo e Brasília. Segundo Maria Glória Guimarães dos Santos, diretora de tecnologia do BB, a idéia é que qualquer tipo de aparelho, de qualquer operadora, possa ser usado para pagar contas.
O BB resolveu apostar forte no segmento desde 2005. Tem 450 mil clientes cadastrados, que fazem 2,4 milhões de transações por mês. Só 8% das operações do BB são feitas em agências. O resto todo é feito por meio de auto-atendimento, como internet e caixas eletrônicos. No celular, o principal serviço utilizado é consulta de saldo e extrato, que respondem por 70% das operações por celular do banco. Outros 23,5% são transações para recarga de celular pré-pago. As transferências respondem por 3%.
O Banco Itaú também resolveu investir na área e apresentou ontem o seu produto para pagamento por celular, ainda sem nome. Ele foi desenvolvido junto com a Redecard, a empresa que cadastra estabelecimentos para os cartões MasterCard e Diners e está em fase de testes. O banco já oferece as transações bancárias tradicionais por celular, incluindo dados de fundos de investimento e saldo de aplicações em ações. No primeiro trimestre registrou 1,6 milhão de transações pelo aparelho, diz Luis Antonio Rodrigues, diretor de canais eletrônicos do Itaú. A projeção é que este ano, mais de 6 milhões de operações sejam feitas por celular. Entre as operações, 17% são pagamentos de títulos e 24% são transferências. A grande maioria (74%) dos usuários são homens. Jovens na faixa de 26 a 35 anos respondem por 44%.
Já o Banco Real resolveu buscar nichos específicos para o uso do celular como meio de pagamento. O banco está com dois testes, um com taxistas em São Paulo, onde é possível pagar as corridas pelo aparelho. O outro é focado no público universitário. O banco resolveu habilitar os estabelecimentos comerciais dentro da PUC de São Paulo e os estudantes usam o celular para pagar os lanches e livros, conta Cláudio Almeida Prado, diretor do Real.
Apesar dos investimentos dos bancos, o consenso no Ciab, o evento de automação bancária da Febraban, é que este processo está apenas no início e falta muito para difundir na população o uso do celular como banco e meio de pagamento. Medo de fraudes e medo de não saber usar o aparelho estão entre as preocupações dos clientes. Há ainda o custo das transações. A mensagem de texto (chamada de SMS) no Brasil, que custa cerca de R$ 0,36, é uma das mais caras do mundo. Em comparação com a Argentina, o preço é nove vezes maior. Praticamente toda transação vai exigir um SMS.
"O principal desafio é fazer a pessoa acreditar que pode usar o celular para fazer qualquer tipo de transação", diz Len Pienaar, diretor do Fist National Bank (FNB), da África do Sul. O banco já tem 1 milhão de clientes, com mais de 900 milhões de transações por mês.