Título: Produção, arrecadação e consumo crescem no Sul
Autor: Bueno, Sérgio e Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Brasil, p. A4

Apesar dos problemas causados pela valorização do real para indústrias fortemente exportadoras como a calçadista, a economia do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina - Estados com potencial exportador - mostram sinais de que mantém o pé no acelerador no segundo trimestre. Os indicadores aparecem na indústria, no varejo e na agricultura, assim como na arrecadação de impostos e na demanda por energia elétrica.

Em abril, conforme o IBGE, a produção industrial gaúcha teve a maior expansão do país em comparação com o mesmo mês de 2006, com alta de 16,1%. Em Santa Catarina, a alta foi de 8,7% e no Paraná, de 13,2%, todas acima dos 6% da média nacional.

No grupo Randon, uma das maiores empresas gaúchas, os negócios estão "um pouco mais acelerados" do que no primeiro trimestre nos segmentos de equipamentos de transporte e de autopeças, relata o diretor corporativo e de relações com investidores, Astor Schmitt. De janeiro a março, a receita bruta total do grupo já havia crescido 12,7%, e no acumulado até abril a taxa subiu a 15,5%, sempre em relação a 2006.

A indústria de cama, mesa e banho Buettner, de Santa Catarina, teve um bom primeiro trimestre. O volume de vendas foi 5% superior ao de igual período de 2006, mas no segundo trimestre a demanda esfriou. Para o presidente da empresa, João Henrique Marchewsky, o segundo trimestre não vai apresentar crescimento. Segundo ele, existe um consumidor mais confiante, há um maior otimismo, uma renda um pouco melhor, mas a oferta interna de artigos do setor cresceu muito porque exportadores desviaram produção para o mercado doméstico.

Puxada pela demanda aquecida do setor primário, a carteira de encomendas de reboques e semi-reboques rodoviários da Randon equivale hoje a quatro meses de produção, quase o dobro do nível verificado no mesmo período de 2006, explica Schmitt.

Na fabricante de tratores e colheitadeiras CNH, do Paraná, o astral está bem melhor que no ano passado, segundo o diretor comercial, Francesco Pallaro. A venda de tratores cresceu 39% de janeiro a maio, na comparação com os cinco primeiros meses de 2006. No caso de colheitadeiras, o aumento foi de 66%. Como há sazonalidade, ele prefere falar na previsão para o fechamento do ano todo, quando espera incrementar as vendas dos dois produtos em 20%.

Uma das maiores redes varejistas de eletroeletrônicos do país, a Lojas Colombo registra crescimento de 4% na receita acumulada até maio em relação a igual intervalo de 2006. No primeiro trimestre a expansão havia ficado em 1,8%, explica o diretor-comercial, Arnildo Heimerdinger. De acordo com ele, a expansão é maior no volume vendido, mas nos últimos meses houve quedas significativas de preços em muitos produtos.

De acordo com a Fecomércio-SC, as vendas no primeiro trimestre deste ano cresceram 9,2% em relação ao primeiro trimestre de 2006 e há indicativos de um segundo trimestre mais forte. Antônio Edmundo Pacheco, presidente da Fecomércio-SC, diz que o otimismo para gastos com o presente no Dia dos Namorados é usado como um parâmetro para o comportamento do consumidor no segundo trimestre: em seis cidades catarinenses verificou-se intenção de gastos médios bem maiores do que ano passado: de R$ 35 para R$ 75. Ele destaca que, nos últimos 20 dias, o varejo de calçados e de vestuário apresentou vendas mais fortes por conta do frio.

O desempenho da economia reflete na arrecadação do ICMS. Segundo a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, depois da queda de 4,6% no primeiro trimestre, provocada pela redução das alíquotas de energia, telecomunicações e combustíveis, no bimestre abril-maio a receita avançou 1,7%, para R$ 1,97 bilhão, sempre em valores corrigidos, diz o diretor da receita pública estadual da secretaria, Júlio César Grazziotin.

Segundo ele, o crescimento da arrecadação segue o aumento do consumo influenciado pelo "efeito-renda" da safra deste ano, que deve superar os 22 milhões de toneladas de grãos, ante 19,8 milhões em 2006.

A arrecadação de ICMS em Santa Catarina entre abril e maio foi maior do que em abril e maio de 2006 em 10%, taxa similar a do primeiro trimestre, que ficou em 11%. Além de beneficiado pelo aumento do PIB, para o diretor de arrecadação tributária da Secretaria da Fazenda, Almir Gorges, o governo ampliou a fiscalização e conseguiu reduzir a inadimplência.

A Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), do Rio Grande do Sul, registrou alta de 4,8% na demanda por energia no acumulado de cinco meses. O presidente da estatal, Delson Martini, destaca a alta do consumo do setor industrial a partir de abril, após três meses de queda. Em abril o crescimento foi de 11% em relação ao mesmo mês de 2006 e em maio, de mais 2%, acumulando uma taxa positiva de 0,7% nos cinco meses.

Os dados de consumo apurados pela Celesc, que abrange 92% do território catarinense, mostram que os meses de abril e maio deste ano foram mais fortes do que abril e maio de 2006. O crescimento foi de 5%. (Colaborou Marli Lima, de Curitiba)