Título: Sem alta de preços, saldo encolheria US$ 10 bi
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Brasil, p. A5

Sem o expressivo aumento do preço dos produtos exportados pelo país no ano passado, o saldo da balança comercial brasileira encolheria US$ 10 bilhões. Ao invés dos US$ 46 bilhões efetivamente apurados, o superávit ficaria em US$ 36 bilhões se considerasse apenas a evolução das quantidades exportadas e importadas, que cresceram respectivamente 3,3% e 16%.

Em 2006, o Brasil obteve um ganho significativo em termos de troca - diferença entre preços de exportação e importação - de 5,2%, conforme estudo da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), obtido com exclusividade pelo Valor. Na prática, é como se o país tivesse ficado mais rico, porque consegue comprar uma quantidade maior de mercadorias com o mesmo esforço produtivo.

A tendência é a mesma neste início de ano. De janeiro a abril, o ganho de termos de troca ficou em 7% em relação a igual período do ano anterior. Com a quantidade importada crescendo 22%, bem acima dos 8,3% do volume exportado, o superávit comercial do período teria ficado em US$ 9,6 bilhões se não fosse pela diferença de preços - uma perda de US$ 3,3 bilhões em relação ao valor real apurado pelo país.

Segundo Fernando Ribeiro, economista da Funcex, os preços de exportação brasileiros estão sendo beneficiados pela alta de commodities, como minério de ferro e soja, e pelos reajustes dos manufaturados, provocados pelo esforço das empresas em compensar a valorização cambial.

Já os preços dos bens e consumo e de capital importados estão em queda no mercado mundial, por conta da maior oferta de produtos chineses. Ribeiro explica que a relativa estabilidade dos preços do petróleo desde 2006 também ajuda o Brasil a melhorar os termos de troca. Embora já tenha peso significativo nas exportações (9%), o petróleo representa 17% das importações.

Embora o "boom" das commodities tenha começado há cinco anos em um dos ciclos de alta mais longos da história, os termos de troca não contribuíram positivamente para o saldo comercial do país entre 2003 e 2005. Ribeiro diz que os preços dos produtos exportados e importados cresceram no mesmo ritmo no período. O forte aumento do saldo comercial - que praticamente dobrou, saindo de US$ 24,8 bilhões em 2003 para US$ 44,7 bilhões em 2005 - está ligado ao desempenho dos volumes. Houve forte diferença entre as quantidades exportada e importada, que subiram, respectivamente, 51% e 20%.

"Houve um aumento generalizado dos preços no comércio mundial nesse período, uma inflação global, não apenas nas commodities que o Brasil exporta, mas também nos produtos que o país importa", explica o economista. Além disso, o forte aumento das cotações do petróleo ajudou a elevar os preços das importações de combustíveis entre 2003 e 2005.

Com exceção do movimento verificado em 2006 e no início deste ano, os termos de troca do comércio exterior brasileiro têm se mantido relativamente estáveis desde 2000. Um cenário muito diferente do que acontece com a Venezuela ou com o Chile, que ganharam poder de compra com a explosão dos preços do petróleo e cobre, suas principais commodities de exportação. No Brasil, isso não acontece, porque as pautas exportadora e importadora são diversificadas, o que garante uma relativa estabilidade.

"Não se pode dar uma importância exagerada aos termos de troca. Nos últimos anos, as variações têm sido pequenas em relação à média histórica", diz Ribeiro. Nos anos 70 e 80, os termos de troca passaram por diferentes fases, mas com mudanças bastante expressivas.

Entre 1975 e 1983, o Brasil sofreu com uma queda de quase 50% nos termos de troca, explicada pelo forte crescimento dos preços de importação, provocado pelo aumento das cotações internacionais do petróleo. Naquela época, o combustível representava metade da pauta de importação e o país não tinha pretensão de exportar petróleo.

Já na década de 90, o Brasil foi beneficiado pela conjuntura internacional e acumulou um ganho de termos de troca de 46% entre 1990 e 1997. Só que adiantou pouco para a balança comercial. Por conta da abertura da economia, a quantidade importada saltou 281%, acima dos 52% do volume exportado. O resultado foi uma reversão de um superávit de US$ 10,8 bilhões, apurado em 1990, para um déficit de US$ 6,9 bilhões em 1997.