Título: Distância salarial entre metalúrgicos aumenta
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Brasil, p. A6

Durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o salário dos metalúrgicos no país cresceu acima da inflação e o poder de compra dos trabalhadores aumentou. Entretanto, as diferenças salariais regionais também se elevaram e a distância entre o maior e o menor salário está cada vez maior.

Para comprar um carro popular em 2006, um montador da indústria automobilística do ABC paulista (Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul) teve de trabalhar 1.138 horas, muito menos que as 5.893 horas que um operário de Sete Lagoas (MG), cidade com o menor salário dos montadores, precisou. Em 2002, nas três cidades paulistas, o trabalhador teria de destinar 1.285 horas e na cidade mineira, 6.407 horas. O preço do carro, de R$ 23 mil, foi calculado pela média do Gol, Ka, Uno e Fiesta.

No ano passado, no ABC paulista, onde o salário de um montador da indústria automobilística é maior, um operário precisou trabalhar 174 horas para comprar sua cesta básica e pagar as despesas com moradia, transporte, educação e saúde. Sobrou ainda quase um terço do salário. Já em Sete Lagoas, o montador precisou de quase três meses de trabalho, ou 551 horas, para pagar pelos mesmos produtos e serviços.

Esses dados constam do estudo "Do salário às compras", divulgado ontem pelo Dieese no 7º Congresso da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT), em Guarulhos (SP). O instituto coletou dados em 54 municípios, em dez Estados, entre julho e outubro de 2006, para calcular o poder de compra dos trabalhadores dos setores automobilístico, de autopeças e de siderurgia. O resultado demonstrou que o salário dos trabalhadores do ABC, por exemplo, teve um crescimento real de 33%. Mesmo com os menores salários, os operários de Sete Lagoas receberam 20% mais do que a inflação.

Mas ao cruzar o valor recebido pelos trabalhadores com o custo de vida nas cidades, o levantamento mostrou que nesses setores o trabalhador das cidades paulistas receberam 4,7 vezes a mais que o operário mineiro. Essa diferença é mais alta do que a registrada em 2002, quando era de 4,38 vezes.

Quando a comparação é feita entre a média registrada nos dez Estados, o trabalhador metalúrgico do Maranhão aparece com o menor salário, de R$ 848,07. O salário pago em São Paulo, onde estão concentrados os trabalhadores dos três setores, é mais que o dobro, de R$ 1.908,35. As diferenças regionais indicadas no salário nas montadoras também foi registrada nos outros dois setores. Um trabalhador da indústria de autopeças de Campinas (SP) tem o maior salário/hora dos municípios pesquisados - R$ 10,3. No extremo oposto está Juiz de Fora (MG), com um salário de R$ 3,63 por hora. Em contrapartida, no setor siderúrgico Juiz de Fora paga o segundo maior salário/hora - R$ 13,04, ante R$ 4,37 de Piracicaba (SP).

As disparidades registradas pela pesquisa são uma das principais bandeiras levantadas pelos dirigentes sindicais no congresso dos metalúrgicos da CUT para conseguir um piso único nacional. Os sindicalistas querem aproveitar o bom momento vivido pelo governo petista para reivindicar também um contrato coletivo para os metalúrgicos. Para o secretário geral da CNM-CUT, Valter Sanches, é preciso acabar com as diferenças salariais. "A variação de preços mostra que o custo de vida no país todo é muito parecido. Não se pode ter variações tão grandes nos salários", disse.

Nos últimos quatro anos, o número de empregos criados nas indústrias automobilísticas, de autopeças e de siderurgia reverteu a trajetória de queda. De dezembro de 1994 a dezembro de 2002, foram fechados 91,7 mil postos de trabalho. Entre 2002 e abril de 2007, as fábricas criaram 423,8 mil postos de trabalhos, segundo o Dieese.

No "Mapeamento do Ramo Metalúrgico", também divulgado ontem, o Dieese mostrou que cada vez mais os jovens estão entrando no setor, e com mais escolaridade. O homem entre 30 e 39 anos ainda é a maioria nas fábricas (30%), mas aqueles que estão no começo da carreira, entre 20 e 24 anos, já são 23% dos operários das fábricas.