Título: Relator propõe arquivamento de processo contra Renan
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Política, p. A12

O senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) apresentou ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, ontem, relatório pedindo arquivamento da representação do P-SOL contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), sem realizar diligências ou ouvir depoimentos. A estratégia de encerrar sumariamente o processo, defendida pelo PMDB, foi contestada por senadores do DEM, do PSDB, do PTB e do PSB. O PT ficou dividido.

Depois de quatro horas de reunião tumultuada - marcada pela performance teatral do advogado de Renan, Eduardo Ferrão, que criticou a liberdade de imprensa e apelou para o espírito de corpo dos senadores -, o presidente do conselho, Sibá Machado (PT-AC), marcou para amanhã a votação do relatório. Regimentalmente, só haverá investigação se o relatório de Cafeteira for derrubado e o conselho aprovar um substituto. Demóstenes Torres (DEM-GO) estuda apresentar relatório alternativo, com apoio do PSDB. Porém, é quase nula, entre os senadores, a disposição de punir Renan. Os protestos foram contra a tentativa de inocentá-lo rapidamente, sem qualquer investigação.

"Do jeito que esse processo está sendo feito, parece que o presidente do Senado tem alguma coisa a esconder", disse Demóstenes. "Não queremos arrastar Renan para o olho do furacão, mas também não queremos que o Senado seja arrastado (para uma crise) por não fazer investigação", completou.

Sem esconder o desejo de se "livrar" rapidamente da função de relator do caso, Cafeteira - apenas três dias depois de receber a representação do P-SOL e os documentos da defesa - concluiu não ter havido "prática de qualquer conduta incompatível com o decoro parlamentar" por parte de Renan. A representação pedia investigação do pemedebista por ter usado um lobista da Mendes Júnior - Cláudio Gontijo - como intermediário de pagamentos pessoais feitos à mãe de sua filha de três anos.

Com base em reportagens da revista "Veja", o partido levantava suspeita de que os recursos seriam da empresa e não do senador. A representação cita ainda notícias sobre a proximidade de Renan com o empresário Zuleido Veras, dono da Gautama, apontado pela Polícia Federal como chefe do esquema de corrupção investigado na Operação Navalha.

Para Cafeteira, os documentos apresentados por Renan com sua movimentação bancária mostram sua capacidade financeira de arcar com as despesas. Considerando o discurso feito por Renan no plenário do Senado e o depoimento de Gontijo ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), o relator avaliou que os fatos foram "cabalmente esclarecidos". Considerou, portanto, ser desnecessário ouvir depoimentos dos envolvidos, como pediu o P-SOL.

Numa atuação típica de Tribunal de Júri, o advogado de Renan falou por meia hora. Pediu para falar em pé. Classificou as denúncias contra Renan como parte de ações que estariam em curso no país para enfraquecer as instituições e desacreditar os homens públicos. Citou denúncias contra deputados, insinuações contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e até o indiciamento de Genival Inácio, o Vavá, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela Polícia Federal.

"A nação fica acuada. É a Câmara dos Deputados, o vice-presidente do STF, o presidente do Senado e o presidente da República... Quem será o próximo?... As instituições estão sendo questionadas e os homens públicos passaram a não ter valor", disse. Para o advogado, a "liberdade de imprensa está sendo exercida de tal forma que a pessoa acusada não tem condições de se defender". Dedo em riste, Ferrão perguntou aos senadores: "Quem não está com medo de ter sua vida devassada?"