Título: Oposição protocola pedido de abertura da CPI da Navalha
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Política, p. A12

Com margem apertada de assinaturas, parlamentares de oposição protocolaram ontem pedido de abertura da CPI da Navalha, destinada a investigar a relação de políticos com empreiteiras e lobistas.

Depois de 22 dias recolhendo assinaturas, o grupo conseguiu a adesão de apenas 172 deputados, um a mais do que o mínimo necessário, e 30 senadores, o que sugere que a CPI tem poucas chances de vingar. Isso porque caso dois deputados ou três senadores decidam retirar suas assinaturas, a comissão não sairá do papel. Ontem mesmo, líderes dos partidos governistas pressionavam nos bastidores pelo recuo de ao menos 20 aliados.

O próximo passo para a instalação da comissão é a conferência das assinaturas e análise se há "fato determinado" para seu funcionamento. A partir daí, como se trata de uma comissão mista - inclui deputados e senadores -, cabe ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), convocar uma sessão do Congresso para a leitura do requerimento.

Renan enfrenta processo no Conselho de Ética do Senado por denúncias de que uma empreiteira pagou suas despesas pessoais.

O prazo para a retirada das assinaturas expira à meia-noite do dia em que o requerimento for lido em plenário, o que assegura tempo ao governo para manobrar um recuo de alguns parlamentares da lista. "Sei que vai ser arquivado [o requerimento], mas por causa disso não posso deixá-lo na gaveta. Tenho que respeitar quem quer investigar", afirmou um dos autores do pedido, Júlio Delgado (PSB-MG).

O P-SOL anunciou que divulgará os nomes dos congressistas que eventualmente retirem suas assinaturas. "Vamos mostrar quem são aqueles cujas firmas não têm firmeza", disse o líder do partido na Câmara, Chico Alencar (RJ).

Oficialmente, 56 dos 172 deputados que aderiram à proposta de CPI integram partidos da base do governo. O cálculo dos líderes é que 20 dos 56 desistirão nos próximos dias. Entre as siglas de oposição na Câmara, a única legenda que apresentou resistência ao pedido foi o DEM: 15 deputados não assinaram, a maioria pertencente às bancadas da Bahia e de Sergipe.

Conversas telefônicas flagradas pela Operação Navalha revelam pagamento de R$ 20 mil ao deputado Paulo Magalhães (DEM-BA). Outro envolvido no escândalo é o empresário João Alves Neto, filho do ex-governador de Sergipe João Alves (DEM) e da senadora Maria do Carmo (DEM-SE).

Apenas dois deputados do PT, Paulo Rubem Santiago (PE) e Praciano (AM), assinaram o pedido de CPI. No Senado, o único signatário da sigla foi Delcídio Amaral (MS).