Título: Bornhausen e Dirceu defendem mudança
Autor: Junqueira, Caio e Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Especial, p. A16

Sem mandato, mas influentes nas cúpulas de seus partidos, Jorge Bornhausen e José Dirceu confluem na defesa do sistema de lista fechada. Ex-senador, ex-ministro e ex-embaixador, Bornhausen desistiu de se recandidatar ao Senado em 2006. Hoje comanda a fundação do partido e atua como consultor em São Paulo. Ex-deputado e ex-ministro, José Dirceu teve seu mandato cassado pela Câmara e hoje também atua como consultor em São Paulo.

Bornhausen defende a lista por acreditar que o sistema possibilita a qualquer eleitor a entrada no sistema político. "Acho a lista boa porque pode trazer para a vida pública pessoas que não podem participar dela", diz.

José Dirceu vê na lista uma saída para o fortalecimento dos partidos, que acredita estarem sendo dominados pelos parlamentares e pelos interesses de seus financiadores de campanha: "O financiamento privado faz com que os deputados tenham relação com os financiadores de suas campanhas. Os partidos foram se enfraquecendo e os mandatos parlamentares foram tomando conta dos partidos".

Dirceu argumenta que a esmagadora maioria dos parlamentares hoje não é eleita com seus votos, mas com aqueles obtidos pela legenda e pelos correligionários mais votados - "A única diferença com a reforma política é que quem fará a lista será o partido, serão os filiados. Hoje é o eleitor. Mas os partidos precisam ser fortalecidos em nome da democracia".

Em sua defesa da lista fechada, Bornhausen também se mostra preocupado com o poder das bancadas partidárias. Diz-se contrário à formulação do texto do seu correligionário, deputado Ronaldo Caiado (GO), relator da reforma política, que estabelece a precedência das bancadas nas listas. "Na lista do PSDB, por exemplo, o ex-governador Geraldo Alckmin ficaria em último por não ser parlamentar?", indaga.

O senador argumenta ainda que a precedência dos parlamentares prejudicaria a renovação partidária e parlamentar. "À médio e longo prazo é uma tragédia. A renovação para a sociedade acaba sendo mínima e a sociedade precisa dessa renovação, já que a classe política é muito mal vista pela sociedade", diz.

Bornhausen acredita que, passando na Câmara, a lista com precedência para deputados cairia no Senado. "É um vício que a Câmara introduziu mas é sanável. O Senado pode fazer uma emenda repressiva para retirar essa cláusula".

Dirceu avalia que a proposta vai na corrente das mudanças que já estão ocorrendo no país. Diz que o TSE já decidiu que o mandato é do partido e não do deputado.

Nem o ex-deputado, ou tampouco o ex-senador, acreditam que a mudança favoreceriam excessivamente as cúpulas partidárias. Bornhausen diz que, no DEM, isso seria evitado pelo próprio processo de renovação ao qual a legenda está sendo submetida. Dirceu diz que a oligarquização é um risco que afeta outros partidos mas não o PT. "Essa é uma falsa questão. Quem vai votar serão os filiados, não a cúpula. Mas hoje quem escolhe os candidatos já é o partido. Como é que alguém se torna candidato a deputado federal, estadual, a vereador? Pela escolha do partido. No PT existe um sistema de indicações e existem prévias para cargos majoritários e para senador. Precisa ter indicações dos diretórios, ter alguma mediação. Mas para os outros partidos, vai melhorar porque todos os filiados é que escolherão quem irá para lista e qual será a ordem", diz.