Título: Ministro também faz alerta sobre "excesso de euforia" no etanol
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Agronegócios, p. B13

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, alertou ontem para a existência de um "excesso de euforia" provocado pelas fortes apostas na elevação das exportações do etanol brasileiro. "Eu acho que há um excesso de euforia. Neste momento, o mercado é restrito, mas o que existe é uma grande perspectiva para o mercado futuro. Outros países ainda serão potenciais consumidores nossos", disse.

É a primeira vez que uma autoridade do governo brasileiro faz um alerta público sobre os eventuais perigos gerados pela febre do etanol no país. Stephanes afirmou estar preocupado com a correlação entre o excedente de produção, que chegaria a 4 bilhões de litros neste ano, e o tamanho reduzido da demanda por etanol no exterior. "O que há são perspectivas, um potencial muito grande para que a Europa e o Japão passem a utilizar o álcool no consumo interno. Não é uma coisa para já. Temos que tomar cuidado com a euforia neste curto prazo, embora o mercado de médio e longo prazos seja excelente", disse. Segundo ele, os produtores têm que se "empenhar mais" para elevar as vendas no mercado interno. "Isso é importante", disse.

De parte do governo, Stephanes anunciou duas medidas para auxiliar na absorção do volumoso excedente de oferta e forçar uma recuperação dos preços, que caíram 30% nas usinas neste ano, segundo o ministério. A primeira medida foi a confirmação da elevação, de 23% para 25%, no teor de álcool na gasolina vendida em postos de combustíveis. A modificação na mistura, que última alteração havia ocorrido em novembro de 2006, passa a valer em 1º de julho. O ministro afirmou esperar uma redução dos preços ao consumidor. "Espero que chegue ao consumidor final. Tem que chegar de forma razoável para reduzir o preço da gasolina", disse. A alteração aumentará o consumo interno em 400 milhões de litros neste ano, avalia o ministério.

A outra medida anunciada ontem por Stephanes foi a criação de um grupo de trabalho, composto por técnicos dos ministérios da Agricultura e das Minas e Energia, para avaliar mecanismos destinados a reduzir a alta volatilidade dos preços do produto, o que provoca instabilidade no mercado interno e apreensão nos eventuais compradores no exterior. O ministro informou que o governo tentará aprofundar estudos sobre contratos de longo prazo entre distribuidoras e usineiros - a medida foi prometida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) no ano passado. O grupo, que contará com representantes dos usineiros, também avaliará medidas para alavancar as operações de comercialização do álcool na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).

Stephanes afirmou, ainda, que serão estudadas alternativas para manter estoques estratégicos de álcool a serem utilizados em momentos de eventuais problemas de abastecimento. "Possivelmente, [os estoques] serão privados", disse o ministro. Hoje, o governo estima haver 12 bilhões de litros de etanol em estoques privados. E não há políticas públicas nem recursos orçamentários para financiar a estocagem do produto nas usinas. Os usineiros insistem no sistema de crédito público (warrantagem) para ajudar no carregamento dos estoques.