Título: Quanto custa a gestão
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, EU & Investimentos, p. D1

A queda dos juros deixou à mostra o preço cobrado pelos bancos para fazer a gestão dos recursos dos investidores em fundos de renda fixa, a taxa de administração. Aplicada sobre o patrimônio total do fundo e descontada diariamente da cota, essa taxa ficava antes camuflada pelos ganhos estratosféricos obtidos com papéis do governo. Mas, hoje, taxas entre 3% e 4% ao ano em média chegam a representar de um quarto a um terço dos 12% ao ano de rendimento bruto obtido por um fundo de renda fixa ou DI de varejo. Não é à toa que a maioria dos DIs de varejo não consegue mais ganhar da poupança depois de descontada a taxa de administração e o imposto de renda.

Esse impacto maior levou os bancos a se movimentarem, revendo a estratégia não só de renda fixa, mas também de multimercados e ações, aproveitando a maior procura por diversificação. É o que mostra um estudo feito pelo professor William Eid Júnior, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da Fundação Getulio Vargas, com exclusividade para o Valor.

Segundo o estudo, de 1998 para cá, o que se vê é que a taxa média dos fundos de renda fixa para o varejo, ponderada por seu patrimônio, cai até 2005, mas volta a subir levemente em 2006, para 2,552% ao ano. No atacado, as taxas sobem até 2002 e depois recuam, fechando em 0,666%. Já os fundos de ações se mantém ligeiramente estáveis, em torno de 3,5% ao ano para o varejo, mas sobem para o atacado, para 2,36% ao ano. Nos multimercados, a taxa recua no varejo até 2000 e depois volta a subir em 2004, estabilizando-se em 1,81% em 2006. No atacado, os multimercados sobem, para 1,30% no fim do ano passado.

Mas antes que o investidor se pergunte por que, então, o fundo DI ou renda fixa de varejo onde ele aplica continua com a mesma taxa, de 4% ao ano, é preciso explicar que a mudança não ocorreu nos fundos antigos, mas na média do mercado, que leva em conta fundos novos. Foi uma das soluções encontradas pelos bancos para manter a atratividade das carteiras de renda fixa e evitar uma migração para a poupança - outra solução foi negociar com o governo uma redução na variação da Taxa Referencial (TR), para piorar um pouco a caderneta.

O problema para o investidor é que os novos fundos, com taxas de administração menores, de 2% a 2,5% em média, destinam-se apenas a investidores de maior renda, o chamado varejo seletivo - Personnalité, Prime, Estilo, Van Gogh, Uniclass, entre outros -, ou têm aplicação mínima maior, R$ 10 mil, R$ 30 mil ou até R$ 100 mil.

Assim, praticamente todos os fundos de varejo dos grandes bancos, com aplicação até R$ 1 mil, continuam com taxa de administração de 4% ao ano e, alguns, de 3,5%. A exceção é Caixa Econômica Federal, que tem fundos de renda fixa de 2% ao ano para varejo por uma política agressiva de conquistar mercado. E houve casos em que a instituição subiu a taxa desses fundos. Foi o que aconteceu com o Banco do Brasil (BB) no ano passado que, segundo Eid, fechou R$ 18 bilhões em fundos de renda fixa de varejo e abriu novos com taxas mais altas, puxando a média.

Olhando apenas para o varejo, a Caixa reduziu bastante o custo dos fundos que administra, enquanto BB e Santander elevaram bastante, explica Eid. ABN e Citibank mantiveram e o Bradesco reduziu a partir de 2004. O Itaú reduziu de 2005 para 2006 e o HSBC barateou o custo da gestão a partir de 2004. O Unibanco reduziu as taxas até 2000, voltou a subir em 2003 e, depois, estabilizou o custo.

Para o atacado, o BB subiu a taxa média de administração de 2005 para 2006. Santander, Itaú , ABN Amro, Citibank e Unibanco subiram as taxas, mas com menor intensidade. Já Bradesco e HSBC reduzem as taxas de 2005 para 2006. A Caixa, por sua vez, reduz bastante o custo da gestão no atacado a partir de 2003

Olhando apenas os multimercados, a taxa de administração no varejo cai até 2000 e depois volta a subir, reflexo do forte crescimento de captação. A alta só não é maior porque, nos últimos dois anos, foram criados vários fundos para um varejo mais seletivo, com custo menor e aplicação mais alta. Já no atacado, por efeito da competição junto a institucionais, houve necessidade de baixar a taxa. "No Bradesco, as taxas de ações e renda fixa caem de 2004 para cá e os multimercados sobem", afirma Eid. "É nítida a tendência de alta dos multimercados, reflexo da maior procura dos investidores", diz. A exceção é o Itaú, que derruba a taxa em multimercados.

Já nos fundos de ações de varejo, a taxa cai até 2000, sobe e volta a cair, estabilizando-se em torno de 3,5% em 2006. Essa média vem se mantendo neste ano, com a maioria dos novos fundos de ações ativos lançados pelos bancos de varejo variando entre 3,5% e 4% ao ano. Para o varejo seletivo, pessoas físicas de alta renda, essas taxas caem para 2% a 2,5% ao ano.

O estudo levou em conta os mil maiores fundos do mercado por ano. Juntos, representam 99,5% do patrimônio total dos fundos abertos do mercado. Eid desconsiderou as carteiras com aplicação automática, que cobram taxas de 6% a 8% ao ano, e que distorciam as médias de bancos como Itaú e Bradesco. E considerou varejo fundos que permitem aplicação até R$ 50 mil e taxa de administração mínima de 1% ao ano. No atacado, entraram os destinados a institucionais, corporate, private, ou aqueles que indicam que são para todos os clientes, mas que tenham investimento inicial superior a 50 mil e taxa inferior a 1%.

Eid acredita que a concorrência deve derrubar as taxas de administração. Os bancos terão cada vez mais de aperfeiçoar os produtos e reduzir custos. "E o cliente percebe o impacto no retorno e vai procurar outro produto", afirma Eid, que espera também pressão das próprias assets para reduzir as taxas.