Título: BPN utiliza os correspondentes na área de atacado
Autor: Lucchesi, Cristiane e Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Finanças, p. C4

O BPN Banco Múltiplo, controlado pelo grupo português Sociedade Lusa de Negócios, quer dobrar seus ativos para R$ 400 milhões neste ano, em relação aos R$ 224,097 milhões do final de 2006. A estratégia de expansão se dá de uma forma inovadora, por meio de correspondentes bancários de banco de atacado.

Segundo o presidente do Banco Português de Negócios- BPN, Carlos Catraio, o banco tem hoje 22 correspondentes em diversos Estados, todos pessoas jurídicas, com muita experiência no mercado financeiro e com 40 anos de idade, no mínimo. "Eles podem oferecer serviços de banco de atacado para as pequenas e médias empresas, que geralmente são tratadas como varejão nas instituições financeiras maiores", diz. O BPN oferece toda a gama de serviços de um banco de atacado, de fusões e aquisições a crédito e operações estruturadas.

Todos os correspondentes têm remuneração variável vinculada ao desempenho do crédito concedido. Essa característica incentiva um crescimento saudável da carteira e comprometimento dos correspondentes com o BPN. Os correspondentes de atacado já representam 80% do quadro de pessoal do BPN, o que, segundo Catraio, mantém sob controle o custo fixo da instituição financeira. Para os profissionais, há a oportunidade de obter uma fatia maior dos lucros dos negócios gerados por eles. Por meio desses correspondentes, o BPN tem uma cobertura quase completa do país. Falta um profissional em Vitória, para atuar no Espírito Santo, e outro em Goiás, para Estados na região Centro-Oeste. "A maior parte dos bancos foca sua atuação na cidade de São Paulo, mas nós queremos crescer pelo Brasil afora. São Paulo representa um Brasil de grandes corporações, e há um universo de empresas pequenas e médias despontando em todas as regiões do país", diz.

O foco é a atuação junto às empresas com faturamento de R$ 12 milhões a R$ 360 milhões por ano. Além de fornecer crédito no mercado interno ou externo, o BPN também quer buscar recursos para as médias empresas, seja ele na forma de dívida ou de capital. O crédito no mercado interno é feito, em sua maior parte, por meio das Cédulas de Crédito Bancário (CCB). Muitas destas operações são vendidas a bancos maiores. O crescimento do total de ativos é menor que o valor de novos negócios gerados anualmente pela instituição. Apesar de o balanço aumentar R$ 200 milhões este ano, o total de crédito concedido será maior.

O BPN busca fundos de participações (private equity) para investir nas empresas, diz Catraio. Com o conhecimento de mercado financeiro, os executivos do BPN sabem qual o perfil do fundo que pode atender à necessidade de determinado cliente e ajudá-lo a crescer. Hoje há private equities especializados em setores econômicos ou instrumentos de crédito.

"A elaboração de balanços auditados e adoção de práticas de governança corporativa são fundamentais para aumentar o interesse dos investidores de renda fixa ou variável em uma determinada empresa", diz. O BPN quer também ajudar as médias empresas a tornar seus negócios mais transparentes.

Como exemplo, Catraio cita um pré-pagamento à exportação de US$ 5 milhões, pelo prazo de vencimento em três anos, que o BPN acaba de fechar para a Novopiso S/A, empresa que fabrica pisos estruturados ou engenheirados de madeira para o mercado brasileiro e internacional. O BPN vendeu 100% da operação a investidores, conta.

Na área de banco de investimentos, o BPN tem mandatos para buscar sócios para hotéis na Bahia, no Rio Grande do Norte e no Ceará e para uma empresa de cosméticos. Catraio não quis revelar o nome das empresas.

Para ampliar seus ativos, o BPN terá também de crescer seus passivos para além dos empréstimos da matriz. Prepara-se para captar mais recursos no mercado interno e para isso acaba de contratar os serviços de uma agência de rating, a SR Ratings, que lhe deu a nota "brBBB+".

Segundo a SR, o rating do BPN reflete a "transmissão, ainda que parcial, da qualidade de crédito da matriz". Do capital do banco no Brasil, 80% são do grupo português BPN, controlado pela SLN (Sociedade Lusa de Negócios), e 20% do BAI (Banco Africano de Investimentos), maior banco privado de Angola que tem entre seus principais acionistas a Sonangol, empresa petrolífera governamental angolana.

Catraio não vê necessidade de ampliar o capital do banco no Brasil, hoje de R$ 50 milhões, pelo menos em um primeiro momento. O índice de alavancagem sobre o capital (Basiléia) era de 20,5% no final de 2006, o que mostra que a instituição financeira tem espaço para crescer. Em 2008, uma injeção de capital pode se tornar necessária, no entanto, se os objetivos de R$ 800 milhões em ativos forem atingidos.

O BPN está presente no país desde 2003. Inicialmente, resolveu financiar o consumo e comprou a promotora de vendas Creditus. No ano passado, sob o comando de Catraio, focou nas empresas médias - mesma área do controlador em Portugal. A mudança estratégica garantiu o lucro líquido de R$ 4,2 milhões no segundo semestre, não suficiente para compensar as perdas do início do ano- o exercício fechou com prejuízo de R$ 1,7 milhão.