Título: Câmbio prejudica decisão de investir, diz Coutinho
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2007, Brasil, p. A4

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou ontem que a perspectiva de continuidade da apreciação do real em relação ao dólar prejudica decisões de investimentos da indústria de transformação do país, acrescentando que o governo deve anunciar dentro de duas semanas novas medidas para auxiliar o setor.

Ele ressaltou que a indústria vem vivendo um desenvolvimento assimétrico, no qual os setores voltados para a demanda chinesa por commodities e os mais dependentes da renda doméstica estão se destacando.

"A única ressalva que se pode fazer ao crescimento da indústria de transformação é o fato de a taxa de câmbio ser um pouquinho desestimulante a uma estratégia mais firme de investimento, não só pelo nível da valorização da taxa, mas pela preocupação quanto ao risco de mais apreciação da taxa", disse ele em palestra em São Paulo.

"A tarefa do BNDES de redinamizar a indústria de transformação precisa contar com a coordenação de políticas de tal maneira que a política macroeconômica ajude na direção certa... É importante poder se desfrutar no horizonte de uma taxa de câmbio mais estável."

Coutinho acrescentou que os ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda estão trabalhando em novas medidas para indústrias que estão sendo prejudicadas pelo câmbio, além das anunciadas para alguns setores na semana passada.

Ele não detalhou quais medidas seriam essas nem quais setores devem ser beneficiados, afirmando apenas que usarão "instrumentos convencionais, sem grandes surpresas" e que sairão entre uma e duas semanas. Os setores eletroeletrônico e automobilístico vêm conversando com o governo sobre medidas de compensação do real forte.

Luciano Coutinho prevê que a classificação de "investment grade" (grau de investimento) poderá ser dada ao país até o primeiro semestre de 2008. "Essa perspectiva tem sido antecipada pelo mercado de capitais", disse. Para ele, as condições da economia brasileira "indicam que o Brasil caminha para o investment grade, não numa data muito distante de hoje, talvez antes de 12 meses" .

Coutinho avalia que, apesar de o Brasil não apresentar taxas de crescimento "dos sonhos, ou asiáticas" , o nível atingido nos últimos anos é bastante "satisfatório". "As taxas de crescimento estão razoáveis e mostrando condições de que o processo é sustentável" , disse ele.

Coutinho também previu que as empresas devem captar mais R$ 30 bilhões com emissões primárias de ações no segundo semestre. Segundo ele, as captações de empresas com os diversos instrumentos do mercado de capitais podem atingir de R$ 150 bilhões a R$ 160 bilhões este ano, após terem somando R$ 110 bilhões no ano passado e R$ 63 bilhões em 2005. A previsão inclui lançamento de ações, debêntures, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), entre outras operações. Sem contar as emissões de debêntures das empresas de leasing, Coutinho prevê volume de captação de R$ 75 bilhões a R$ 80 bilhões este ano, frente ao total de R$ 61 bilhões captados em 2006.

Estes números, segundo o presidente do BNDES, "mostram a importância do mercado de capitais como fonte de financiamento do setor produtivo brasileiro" . (Agências noticiosas)