Título: Bird pode apoiar países pobres para compensar Doha
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2007, Brasil, p. A5

Ruy Baron/Valor Robert Zoellick, indicado para a presidência do Banco Mundial ouviu queixa de Lula sobre crédito caro Indicado para a presidência do Banco Mundial, o ex-Representante Comercial dos Estados Unidos Robert Zoellick disse ontem estar disposto a trabalhar com o Brasil em projetos de desenvolvimento na África, e pôs o banco à disposição dos negociadores da rodada de liberalização comercial da Organização Mundial de Comércio (OMC), para atender às necessidades dos países de menor desenvolvimento na negociação. Em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Zoellick ouviu queixas sobre a atuação do banco, e a reivindicação de ações concretas para os países no continente.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, participou da conversa com Lula, e Zoellick teve, ainda, encontros separados com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

Na conversa com Lula, o candidato único à presidencia do Banco Mundial sugeriu que o banco auxiliasse as negociações da OMC, apoiando a iniciativa "Aid for Trade" (Ajuda para o Comércio), que oferece assessoria técnica aos países mais pobres, para aproveitar a abertura comercial em programas de desenvolvimento. Lula e seus ministros lembraram a Zoellick que, hoje, há oferta de empréstimos privados mais baratos que as linhas do Banco Mundial, o que fez a instituição perder a importância para os países de renda média, como Brasil e México; e cobraram medidas concretas para apoiar financeiramente os países menores e endividados do continente, em referência a Bolívia e Paraguai.

Zoellick veio ao Brasil ao fim de um roteiro que incluiu países da Europa, da África e o México, em um esforço para ouvir os sócios do Banco e descobrir como recuperar a imagem da instituição, após a desastrosa gestão do antecessor, Paul Wolfowitz, demitido por ter favorecido, com salários e vantagens, a namorada, funcionária do banco. Diferentemente de Wolfowitz, que elevou o combate à corrupção a prioridade absoluta nas ações do Banco Mundial, Zoellick mostrou ter sensibilidade para o tema, ao falar do assunto, em entrevista coletiva após o encontro com Lula.

"É um assunto que deve ser abordado de maneira multifacetada", comentou, ao defender a posição de países em desenvolvimento, que pedem punições aos corruptores, em lugar de sanções apenas contra os corruptos, nos governos beneficiários de empréstimos do banco. Bloquear recursos a um país por desvio de fundos é o mesmo que penalizar duplamente os pobres desse país, que já são as vítimas principais da corrupção, comentou Zoellick, que também falou do mal estar criado com o processo que levou à queda do antecessor.

"Meu papel como potencial presidente é tratar de curar a instituição, superar alguns dos conflitos, arranhões, machucados, frustrações; isso não será tão fácil", disse, prevendo "muito trabalho" pela frente.

Zoellick foi otimista em relação ao papel do banco nas negociações da OMC, que ele ofereceu aos interlocutores, durante a viagem encerrada ontem. "Digamos, por exemplo, que grandes potências como Brasil, India, Europa e Estados Unidos cheguem a um bom resultado, mas países africanos perguntem: 'e nós, o que levamos?' O Banco Mundial pode dar apoio nisso."

"Alguns países menos desenvolvidos, como na America Central, precisam construir capacidade comercial, ajuda para treinar suas equipes negociadoras, em termos de implementar acordos, tecnicamente, e como ligar a estratégias de desenvolvimento maiores", exemplificou. .

Baseado na experiência como ex-negociador dos Estados Unidos, Zoellick defendeu que o acordo na OMC terá de ser um trabalho de "equipe", e insistiu que as concessões devem ser feitas de forma equilibrada por todos os parceiros, inclusive os países em desenvolvimento. "Precisamos cortes muito profundos nos subsídios domésticos que afetam o comércio", concordou Zoellick, ecoando uma reivindicação dos países em desenvolvimento.

Zoellick anunciou estar disposto a explorar novos instrumentos e mecanismos de financiamento para atender às necessidades dos países beneficiados por empréstimos, como atuação em seguros de créditos, e mecanismos de mitigação de riscos.