Título: Contra dependência e escassez, Chávez cria fábrica socialista
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2007, Internacional, p. A10

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, quer dar um novo impulso a um modelo de empresas "socialistas" que sonha em transformar numa alternativa às companhias privadas, acusadas de se pautarem unicamente pela busca do lucro. As novas empresas, diz Chávez, também ajudarão o país a diminuir sua dependência em relação aos produtos importados.

O governo criará 200 empresas, que produzirão uma variedade de bens: de dutos a utensílios de cozinha. Entre os novos empreendimentos, serão criadas 88 companhias de alimentos; 48 de materiais de construção; 19 de vidro, plásticos e produtos de borracha; 10 de transporte e 10 empresas de reciclagem. Chávez promete ainda lançar oito companhias de equipamentos elétricos e quatro de construção.

O anúncio do plano Fábrica Socialista 2007 foi feito no fim de semana por Chávez, durante o programa Alô Presidente. "Trabalhamos nesse plano de fábricas socialistas por algum tempo (para produzir) refrigeradores, utensílios de cozinha, oleodutos, eletricidade e gás", disse o presidente, acrescentando que planeja também que as novas empresas atenderão à demanda de cimento, bicicletas, cadeiras de rodas, papel e papelão. Além do plano de criação de fábricas, o governo formaliza amanhã a criação da Comissão Central de Planificação, dando posse à diretoria do órgão que terá como missão "acabar com a descentralização dos órgãos estatais".

Pelo menos parte das novas 200 companhias deverá ter o status de "Empresa de Produção Socialista" ou de "produção social", que, na definição do Ministério do Poder Popular para a Economia Comunitária, é conduzida por cooperativas (geralmente com não mais do que 400 funcionários) formadas e capacitadas pelo governo e que "incorporam populações excluídas a atividades sócio-produtivas necessárias para a sociedade".

Há anos, o governo vem investindo recursos para reerguer ou para criar empresas dirigidas ou subsidiadas pelo governo. Desde que assumiu a Presidência, em 1999, Chávez criou uma nova empresa aérea e uma nova telecom, assim como um montadora de tratores e de computadores, construídas em parceria com o Irã e com a China. Com apoio do governo iraniano, a Venezuela já inaugurou quatro empresas de "produção socialista" de leite. A ênfase na criação de fábricas de alimentos (das 200 anunciadas, 88 são desse setor) parece ser uma tentativa de responder às constantes queixas da população de escassez de produtos alimentícios, como carne, nos mercados do país.

Os investimentos nas empresas socialistas têm provocado críticas de economistas e líderes empresariais: segundo eles, os gastos vão no fim das contas atingir o setor privado da Venezuela, já bastante manietado pela forte regulamentação do governo. "O que Chávez está tentando oferecer é a ampliação da oferta por meio de investimento público", disse o diretor do instituto privado de análise econômica Datanalisis, Luiz Vicente Leon.

"O mercado é muito controlado pelo governo, que limita os preços e o acesso aos dólares. Não fossem esses controles, a demanda seria atendida normalmente pela iniciativa privada."