Título: Grau de investimento acelera ida à Bovespa
Autor: Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2007, Empresas, p. B3

As companhias brasileiras aprenderam bem uma das principais lições do mercado de capitais: os investidores antecipam os fatos no preço das ações. Daí, a corrida para listagem de ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A proximidade da classificação do grau de investimento pelo Brasil está levando as empresas a apressarem sua estréia na busca pelo melhor preço para os papéis.

Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acredita que a nova nota de risco do Brasil virá na primeira metade de 2008. A opinião é compartilhada por nomes de peso como o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e sócio da Mauá Investimentos, Luiz Fernando Figueiredo; o diretor gerente do Goldman Sachs no Brasil, Daniel Wainstein; e o diretor de relações com investidores da Companhia Vale do Rio Doce, Roberto Castello Branco. "A questão do 'investment grade' não é mais se, é só quando virá", diz Figueiredo.

As companhias estão acelerando o projeto de abertura de capital cientes de que o futuro pós-grau de investimento não necessariamente é de melhora nos preços dos ativos. Wainstein, do Goldman Sachs, destaca que boa parte dos fatores que leva a essa nota já é realidade. É razoável, com isso, crer que boa parte dos benefícios já foram antecipados. O ex-diretor de Política Monetária acredita que cerca de 70% do ajuste já foi feito e que destaca que alguns países, após receberem a nota máxima, não mostraram forte reação positiva nos preços dos ativos - houve até casos de correção negativa.

Uma das maiores mudança que o grau de investimento pode trazer é aumento da liquidez e da disponibilidade de crédito. Por isso, é justamente para as empresas na iminência de conseguir capital que o ganho já está dado. O salto de visibilidade que o país conquistou com essa expectativa é que garante o apetite pelas ações das novas companhias.

Para o sócio da gestora Investidor Profissional, Pedro Rudge, não há dúvida de que os mais agressivos já estão antecipando nos preços a futura classificação do Brasil. A conseqüência é um ambiente de preços elevados para os papéis das novatas. Para as empresas, um momento a ser aproveitado. Rudge alerta que o efeito colateral negativo desse cenário é o prejuízo na qualidade das companhias listadas. "O processo natural prevê uma preparação para tornar-se uma companhia aberta e muitas empresas podem não estar prontas para isso."

Entretanto, não é regra que as listagens ocorridas nesse ambiente são todas antes da hora. Os recursos obtidos na Bovespa estão financiando a consolidação de setores nacionais importantes, bem como o avanço internacional. A compra da Swift pela JBS (Friboi), que criou o maior frigorífico do mundo, é exemplar nesse sentido.

"Certamente, se não fosse a listagem das ações, a companhia não poderia ter esses planos", destaca Luiz O. Muniz, diretor do Rothschild, banco que assessorou a JBS no negócio. Na opinião dele, há outros casos de empresas com capacidade para expansão internacional. "As companhias deixaram de pensar em sobreviver. Agora, pensam em crescer e se desenvolver", completa Figueiredo.

A têxtil Springs Global, controlada pela Coteminas e em processo de abertura de capital, é mais um caso do fortalecimento do negócio pelo capital. O projeto da empresa é utilizar o dinheiro a ser obtido na bolsa para ser uma consolidadora global no segmento de cama, mesa e banho, com possíveis aquisições na Europa e na Ásia.

Mas, no caso das companhias pequenas e médias, ainda sem porte para alcançar o mercado de capitais - mesmo se apressassem os procedimentos - quase não haverá novidades no dia-a-dia financeiro após o grau de investimento. Elas terão de se concentrar em crescer com boa gestão e com as melhores práticas de governança corporativa, antes de pensar em ir à bolsa, explica o presidente do conselho do Instituto Brasileiro de relações com Investidores (Ibri), João Nogueira Batista. "O risco do país deixará de ser um problema. Essa será a vantagem maior das pequenas", diz o diretor presidente da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Iran Siqueira Lima.

Para as grandes empresas nacionais, participantes antigas da Bovespa, o grau de investimento é uma realidade já dada. A petroquímica Braskem embora ainda não tenha alcançado a nota máxima, já usufruiu de um custo de dívida como se a tivesse. Na Vale, a classificação em nada mudará sua rotina.