Título: GM estuda expandir produção na Argentina
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2007, Empresas, p. B7

A General Motors (GM) estuda a possibilidade de ampliar a capacidade de produção de sua fábrica em Rosário, na Argentina, que hoje opera a toda carga em dois turnos, com 30 veículos por hora. Mas um terceiro turno só será adotado se for mantido o ritmo de vendas na região, a partir do ano que vem, e depois de esgotadas todas as possibilidades de expandir a produção em dois turnos, afirmou o presidente da GM para o Mercosul, Ray Young. Ele deu uma entrevista via teleconferência, de São Paulo, para um grupo de jornalistas brasileiros que visitavam a fábrica de Rosário na sexta-feira.

A fábrica da GM em Rosário é uma das mais importantes da companhia na região. Ocupa um terreno de 1,169 milhão de m², com 91,1 mil m² de área construída, onde produz 84 mil unidades ao ano do Corsa e do jeep Suzuki Vitara, tanto para o mercado doméstico quanto para exportação, empregando 1.520 funcionários. Seu projeto arquitetônico e de logística, projetado para garantir produtividade máxima ao menor custo possível, serviu de modelo para as fábricas da GM na Polônia, China e Tailândia. Somada à unidade de Córdoba, onde produz a Blazer, a GM produz na Argentina 109 mil carros por ano.

Young e o presidente da subsidiária local, Felipe Rovera, estão super otimistas com o desempenho da companhia na Argentina. As vendas internas e externas estão indo de vento em popa, depois da forte crise que atingiu o país em 2002, quando a produção das duas fábricas desabou para 27 mil automóveis. Além da retomada da produção, a GM também trabalha para recuperar a liderança do mercado argentino, hoje nas mãos da Volkswagen. Um executivo que preferiu não se identificar, contou que a marca ficou prejudicada no país durante anos após ter fechado as portas nos anos 70, como resposta ao pesado clima político da época, com a ditadura militar e os ataques dos grupos de esquerda que ameaçavam e algumas vezes seqüestraram altos executivos das grandes empresas multinacionais.

Young contou que está negociando com a matriz americana um investimento de US$ 1 bilhão no Mercosul, adicionais ao US$ 1 bilhão de um programa de investimentos atualmente em andamento. Os recursos serviriam para ampliar a capacidade destas e das demais fábricas da GM na região (Gravataí, São Caetano do Sul, São José dos Campos, Mogi das Cruzes), através da melhoria tecnológica que permita solucionar "gargalos" do processo produtivo. No caso de Gravataí, que está operando a carga máxima de 40 veículos por hora em dois turnos, Young admitiu que não há muita alternativa além de implantar um terceiro turno. Mas isso não está nos planos por enquanto. "A curto prazo não temos planos de aumentar a capacidade de Gravataí. Começamos o ano produzindo 40 carros por hora, agora estamos com 45 e temos oportunidade para aumentar ainda mais. Para 2008, estamos analisando. Com um crescimento sustentável do mercado, talvez possamos colocar um terceiro turno mas antes vamos eliminar os gargalos e tentar aumentar ainda mais (a produtividade)", afirmou.

Além disso, a empresa está para anunciar o lançamento de um novo modelo de automóvel de passeio que, por enquanto, está sob total sigilo. "Estamos discutindo (o lançamento) de uma nova família de produtos de custo baixo, espero que esse ano possamos anunciar", disse Young. Felipe Rovera também mencionou o lançamento desse novo carro durante a abertura do 4º Salão Internacional do Automóvel de Buenos Aires. Segundo ele, seria um "low entry", ou seja, um modelo para entrar em uma categoria de mercado que ele não quis especificar. É de baixo custo mas não necessariamente popular, foi a única dica dada por Rovera.

Young disse que também estuda importar alguns modelos de luxo da Chevrolet como o Hammer e o Cadillac, mas que, no caso do Brasil, está sendo analisado cuidadosamente o impacto destes produtos na questão da segurança e da disponibilidade de combustível. "Esse tipo de carro chama muito a atenção", disse Young, referindo-se à violência urbana nas grandes capitais.

Young disse ainda que, pelo ritmo atual de crescimento das vendas de automóveis, tanto no Brasil quanto na Argentina, compartilha das projeções feitas pelo mercado de que até 2010 a produção de veículos no Mercosul chegue perto dos 4 milhões de unidades contra os atuais 2,5 milhões. "Em um cenário econômico de estabilidade, com juros caindo no Brasil e volume de crédito disponível em crescimento, é possível um mercado de mais de 3 milhões de unidades no Brasil e 800 mil na Argentina."

Quanto as exportações, Young diz que a valorização do real preocupa. Segundo ele, as exportações da GM Brasil em 2006, de 140 mil unidades, já não cresceram, permanecendo praticamente no mesmo patamar de 2005. Para 2008 a previsão é de redução para 100 mil unidades. Para enfrentar a questão do câmbio no Brasil, a idéia é reforçar o que chamou de "hedge natural": se o câmbio está ruim para a exportação a partir do Brasil, compensa-se com a operação argentina, importando veículos e peças do país vizinho.