Título: BC revê para cima projeção para PIB e investimento
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2007, Brasil, p. A3

Os investimentos neste ano serão mais fortes do que o inicialmente esperado pelo Banco Central, colaborando para ampliar a capacidade de crescimento da economia, informa o relatório trimestral de inflação divulgado ontem pela instituição. O aumento dos investimentos, que em março foi projetado em 7,1% , agora é calculado em 8,5%. Esse é o destaque nas estimativas da autoridade monetária para a evolução do PIB de 2007, cuja expansão foi revista de 4,1% para 4,7%.

Em 2006, os investimentos já haviam ficado em patamar elevado, de 8,7%, mas o BC acreditava que esse tinha sido apenas um pico, e que iria acontecer uma certa acomodação. Desde abril, porém, começou a se consolidar dentro do BC o entendimento de que a economia passa por mudanças estruturais, que vão consolidar um novo patamar de investimentos na economia.

O BC decidiu rever para cima suas projeções de investimento diante do bom desempenho no início do ano. O relatório de inflação assinala que a absorção de bens de capital apresentou um "expressivo aumento de 20,1%" no primeiro quadrimestre, comparado com o mesmo período de 2006. A importação de bens de capital cresceu 32%, e a produção de bens de capital, 15,4%.

Segundo o relatório de inflação do BC, "o crescimento expressivo apresentado pelos investimentos nos primeiros meses de 2007 evidencia a recuperação da renda agrícola, os altos níveis de confiança dos empresários, o patamar reduzido do risco Brasil, o volume de importações de bens de capital, assim como a continuidade do processo de flexibilização da política monetária".

A alta dos investimentos é, para o BC, um fato tranquilizador, porque aumenta a capacidade de crescimento da economia, tornando menos prováveis pressões inflacionárias quando a demanda cresce fortemente. Mas não elimina por completo os riscos inflacionários, alerta o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita. O relatório de inflação assinala que, apesar da dinâmica favorável dos investimentos, o nível de utilização da capacidade instalada na indústria tem crescido desde o segundo semestre de 2006 e atingiu níveis elevados do ponto de vista histórico.

"Crescimento da demanda sem investimento me causaria mais preocupações", disse Mesquita, na apresentação do relatório. "Continuo preocupado, porque sou um banqueiro central, e a sociedade sai ganhando quando banqueiros centrais estão preocupados com a inflação."

O BC também aumentou as suas projeções para a expansão das importações, de 14% para 18,8%, o que também contribui para aliviar pressões inflacionárias em um momento de demanda aquecida. Esse foi o argumento apresentado por cinco dos sete diretores do BC que votaram para uma aceleração da redução dos juros básicos, de 0,25 para 0,5 ponto percentual, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de junho.

O consumo, por outro lado, também está mais forte nas projeções do BC, avançando 6,1%, ante 5,6% anteriormente estimado. O consumo dos governo sobe de 0,9% para 2,9%, em grande parte devido à nova metodologia de cálculo do PIB, que tornou mais acurada a estimativa da presença do governo na economia.

O BC diz no relatório que a demanda agregada ainda não reflete a totalidade do estímulo monetário injetado na economia, além de estímulos de outra natureza. "Cabe reconhecer que os impulsos fiscais constituem fator adicional de estímulo à demanda doméstica, bem como o fato de que a demanda por exportações brasileiras ter se mostrado maior do que se antecipava", afirma o relatório. As exportações são agora estimadas em 5,7%, acima dos 4,5% anteriormente projetados pelo BC.

Do ponto de vista da oferta, o BC estima um crescimento de 7% na agricultura, 4,4% na indústria e 4,3% nos serviços. Os serviços são puxados pelo comércio (6,7%) e intermediação financeira (também 6,7%). A indústria de transformação cresce 4,2% , e a extrativa mineral, 6,2%.