Título: Estudo do BC estima economia de 0,7% do PIB sem o uso dos cheques
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2007, Finanças, p. C2

O Banco Central, dentro do projeto de modernizar os pagamentos no varejo brasileiro, preparou um estudo inédito no país para estimar a economia da troca do uso dos cheques por meios eletrônicos de pagamentos, como cartões de crédito e boletos. O levantamento, que será divulgado nos próximos dias, mostra que a economia anual seria de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) - algo perto de R$ 14 bilhões.

A economia viria basicamente da redução de custos do uso dos cheques para o sistema financeiro. Cada folha de papel custa R$ 3,11 para os bancos, estima o BC. Já os meios eletrônicos custam a metade: R$ 1,46.

Segundo Mardilson Fernandes Queiroz, economista do BC e um dos cinco autores do estudo - que demorou mais de um ano para ficar pronto - os resultados no Brasil confirmam os números vistos em levantamentos de outros países, que mostram economia na casa de 1% do PIB com o fim do uso dos cheques. Para fazer o levantamento, o BC avaliou os balanços de 2005 de 34 conglomerados financeiros e fez um modelo econométrico.

"A eficiência do cheque é muito grande, por isso ele é caro", avalia Pedro Guerra, superintendente de custódia do Citibank.

No Brasil, a utilização das tradicionais folhas de papel tem caído 7% ao ano. Em 2006, o recuo foi ainda maior e aumentou para 11%. Os meios eletrônicos (incluindo também a TED e o DOC, além dos cartões e boletos) respondem hoje por mais de 80% das operações.

Em alguns locais, como nos postos de gasolina, o uso do cheque já é praticamente zero, segundo uma pesquisa da bandeira Visa feita em cinco capitais (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Curitiba). Nas drogarias, caiu de 13% para 1%, de 2001 a 2006; já os cartões subiram de 29% para 42%. Nos supermercados, o plástico passou de 22% para 49% enquanto o cheque caiu de 9% para 2%, considerando o período de 1999 a 2006.

Segundo Andrea Cordeiro, vice-presidente de marketing da Visa, o levantamento é feito há oito anos e tem mostrado a "expansão crescente" do uso dos cartões. Em 1999, 33% dos entrevistados afirmaram ter cartão de débito. Em 2006, foram 72%. Já o cartão de crédito, passou de 42% para a casa dos 57%.

As pessoas entrevistadas pela Visa afirmam que a maior vantagem de continuarem usando o papel é por causa do cheque pré-datado. Esta razão aliás, é o que faz os especialistas presentes no Ciab - evento de automação bancária promovido na semana passada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) - acreditarem que o uso do cheque vai continuar em queda, mas não vai acabar tão cedo.

Iézio Ribeiro Souza, superintendente executivo do Bradesco afirma que questões culturais e fiscais vão manter o cheque em circulação por muito tempo. "Por causa da CPMF, o cheque roda muito na praça antes de chegar ao banco", avalia.

A Holanda é um dos países que conseguiu zerar o uso dos cheques. Já nos Estados Unidos, as folhas ainda persistem e respondem por 37% dos pagamentos, uma das taxas mais altas do mundo. No Reino Unido, é bem menor, de 14%.

José Antônio Marciano, chefe do departamento de operações bancárias do BC, defende que o ganho de eficiência para o sistema financeiro seria ainda maior se não houvesse a sobreposição de terminais eletrônicos (ATM) e de leitoras de cartões (POS) no mercado. "É de doer", afirma Marciano, lembrando que alguns comerciantes precisam ter cinco ou seis leitoras de cartões, enquanto o cheque não exige maiores investimentos.

Na pesquisa da Visa, os entrevistados afirmam que uma das principais desvantagens do cheque é que ele não é mais aceito em todos os lugares. Já o temor de perder o controle dos gastos é um dos fatores que dificultam o uso do cartão.