Título: Demanda interna faz Ipea elevar projeção do PIB para 4,3%
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2007, Brasil, p. A3

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para este ano foi revisado ligeiramente para cima pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 4,2% para 4,3%. Para o próximo ano, o instituto não espera uma significativa aceleração do crescimento e prevê alta de 4,4%. O principal fator da revisão em 2007 foi o avanço da previsão do consumo das famílias, de 5,3% para 5,7%, que continuará a sustentar a economia junto com os investimentos das empresas, cuja projeção de alta foi mantida em 9%.

No setor externo, as estimativas foram ampliadas para as exportações de bens e serviços (de 4,7% para 5,4%) e para as importações (de 17% para 19%). "O destaque ficou para o consumo das famílias, devido ao seu peso no PIB, mas em termos de maiores taxas de crescimento, os destaques são os investimentos e as importações", disse Fabio Gianbiaggi, economista do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do instituto.

O setor agropecuário deve crescer 4,5%, taxa inferior à esperada antes, de 6%. O mesmo é projetado para a indústria (de 4,8% para 4,3%). Nos serviços, o prognóstico é de aumento de 4% em lugar dos 3,6% da previsão anterior. No primeiro trimestre deste ano, o PIB subiu 4,3% em relação ao mesmo trimestre de 2006 e o Ipea prevê uma aceleração no segundo trimestre, para 5,5%, embora ressalte haver uma base de comparação baixa no segundo trimestre de 2006. Para os trimestres seguintes de 2007, a projeção é de alta de 3,7%.

Também foram feitas revisões - para baixo - da inflação, juros e taxa de câmbio para este ano. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar 2007 em 3,4% e não mais nos 3,8% previstos antes. A perspectiva do Ipea para os próximos meses é de que a inflação fique dentro de um intervalo "confortável e compatível" com a meta do governo, de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Sobre a taxa Selic, a nova projeção é de uma taxa de 10,7% ao ano na média do último trimestre ante os 11,5% previamente estimados. Já a taxa de câmbio projetada para a média do quarto trimestre baixou de R$ 2,21 para R$ 1,99.

Em sua primeira estimativa para o PIB de 2008, o Ipea espera crescimento de 4,4%, taxa muito próxima à estimada para 2007. A esperada aceleração do crescimento não deve ocorrer em 2008 devido à manutenção da forte alta das importações, de 18%, impulsionada pelo real valorizado. "O crescimento das importações deve continuar com taxas extremamente elevadas em 2007 e em 2008. Isso ajuda a conter a inflação, mas tira a robustez do PIB", disse Giambiagi.

Assim como em 2007, o PIB do ano que vem deve ser sustentado pela demanda interna, com altas de 5,6% no consumo das famílias e de 9,1% nos investimentos. Entre os setores produtivos, a aposta é de aumentos de 5% na agropecuária, de 4,6% na indústria e de 4,1% nos serviços.

O Ipea também divulgou ontem números do PIB potencial, calculados em linha com a nova metodologia do IBGE. Em 2006, o PIB potencial apresentou alta de 3,8%, acima dos 3,1% previstos segundo a metodologia antiga, o que significa que o Brasil pode crescer mais, sem gerar pressões inflacionárias. Para este ano, o Ipea prevê a manutenção da alta do PIB potencial em 3,8%.

"Até recentemente, tínhamos trabalhando com uma previsão de alta de PIB potencial de 3%, com um crescimento do PIB em torno de 4%. O hiato do produto em relação ao PIB iria estreitar, gerando pressão inflacionária. Como o PIB potencial cresceu mais, o hiato vai se estreitar mais lentamente, dando mais espaço para o crescimento do PIB sem pressão de preços", disse Giambiaggi.

Outra ponto diz respeito à produtividade, que passou a representar o principal fator para o crescimento econômico entre 2004 e 2006, superando os fatores capital e trabalho, depois da nova metodologia do IBGE. Em 2006, por exemplo, a produtividade contribuiu com 1,8 ponto percentual do crescimento de 3,7% do PIB.