Título: Nordeste perde e Centro-Oeste ganha pontos nos desembolsos do BNDES
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2005, Brasil, p. A2

Os números do desempenho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de 2004 mostram que a região Nordeste do pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva, segunda em população e terceira em Produto Interno Bruto (PIB), vem perdendo participação relativa nos recursos desembolsados pelo banco e herdou do Centro-Oeste a penúltima posição entre as cinco grandes regiões do país. De 13% do total emprestado pelo BNDES em 2001, o Nordeste caiu para 7% em 2004. Caminho inverso trilhou o Centro-Oeste, passando de 7% para 13%. A região Sudeste, que fica historicamente com a maior fatia, caiu de 58% para 53% do total no mesmo período. "Estamos absolutamente preocupados com essa situação (do Nordeste) e buscando, primeiro, fazer um diagnóstico do que vem acontecendo e, segundo, verificar as possibilidades de projetos estruturantes para a região", disse o superintendente de planejamento do BNDES, Aluysio Asti. Segundo Asti, o primeiro desses projetos estruturantes é a ferrovia Transnordestina, que está sendo concebida como um eixo em torno do qual, espera o governo, grandes projetos econômicos irão se desenvolver. De acordo com o executivo do BNDES, a ferrovia é apenas o primeiro de outros projetos que o banco espera aprovar nos próximos dois anos para ampliar o apoio financeiro ao desenvolvimento nordestino. A curva da participação nordestina no bolo dos recursos do BNDES foi, basicamente, declinante nos últimos quatro anos. Dos 13% de 2001 ela caiu para 8% no ano seguinte, oscilou ligeiramente para 9% em 2003 e perdeu dois pontos no ano passado. Embora tenha ganho a posição do Nordeste no ranking e no percentual dos desembolsos, o Centro-Oeste não foi a única região a ter sua participação aumentada nos últimos quatro anos. Beneficiados pela perda de cinco pontos do Sudeste, o Sul passou de 19% em 2001 para 22% em 2004 e a região Norte passou de 3% para 5% do total no mesmo período. Os desembolsos do BNDES em 2004 somaram R$ 40 bilhões, crescendo 14% sobre o ano anterior, mas ficando mais de R$ 7 bilhões abaixo do orçamento de R$ 47,3 bilhões, mesmo incluindo recursos extra-orçamentários de mais de R$ 1 bilhão distribuídos ao setor elétrico. Individualmente foi o setor elétrico que ficou com a maior fatia do dinheiro do banco no ano passado, R$ 6,502 bilhões, correspondentes a 16% do total. A rubrica material de transportes recebeu 21% do total (R$ 8,531 bilhões), mas ela junta o setor automotivo (R$ 2,568 bilhões) e setor de aeronaves, este, por intermédio da Embraer, beneficiário da grande maioria dos R$ 5,963 bilhões restantes. Quando se observam os grandes ramos de atividade, verifica-se que a indústria perdeu 13 pontos percentuais no total dos desembolsos do banco de 2001 para 2004, passando de 53% para 40% do total dos desembolsos. Segundo Asti, a perspectiva para 2005 é de "considerável crescimento da indústria", dada a existência de projetos importantes já incluídos nas consultas, que cresceram 121% em 2004, (atingindo R$ 98,395 bilhões), e nos enquadramentos (aprovações preliminares) do banco que cresceram 85%, alcançando R$ 75 bilhões. A maior parte dos pontos perdidos pela indústria de 2001 a 2004 foram para infra-estrutura, cuja parcela saltou de 29% para 38% no período. A fatia da agropecuária pulou de 11% para 17% no período e a do comércio e serviços caiu de 6% para 4% do total dos desembolsos do banco. "Uma das tônicas é a retomada dos grandes projetos, disse Asti. Ele ressaltou que os maiores crescimentos devem ocorrer na siderurgia, papel e celulose, petróleo e gás e petroquímica. O orçamento do BNDES para 2005 é de R$ 60,8 bilhões, mais de 50% superior ao liberado em 2004. A direção do banco avalia que a execução desses desembolsos já está praticamente assegurada pelos projetos já aprovados ou em tramitação, apesar de as aprovações de novos projetos ter caído 6% em 2004, ficando em R$ 37,897 bilhões. As maiores aprovações foram para a Embraer (R$ 3,9 bilhões), a Brasil Telecom (R$ 1,27 bilhão) e a Petrobras (R$ 1,07 bilhão).