Título: Americanos pedem silêncio total na reunião
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Fonte: Valor Econômico, 21/06/2007, Brasil, p. A6

O G-4 - Brasil, Estados Unidos, União Européia e Índia - deflagrou ontem um dramático blecaute de informação, ao mesmo tempo em que aumentava a desconfiança de outros países sobre o tipo de acordo que pode sair entre os quatro, na atual negociação em Potsdam. O ambiente ficou desagradável no pequeno e histórico hotel Cecilienhof no fim da negociação da manhã, segundo depoimento de negociadores. Foi quando o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Mike Johanns, queixou-se que jornais brasileiros publicaram as informações de que os EUA insistiam em limitar os subsídios agrícolas a apenas US$ 17 bilhões.

Na terça-feira, o acordo entre os ministros tinha sido de que só eles falariam, fechando a boca de assessores. Ontem, o americano insinuou que estavam saindo detalhes demais sobre a negociação. O resultado foi que os ministros também acabaram se calando.

A partir da reclamação americana, os negociadores reagiram diferentemente, alguns com arrogância, como Peter Mandelson, outros com visível mal-estar pela situação, e outros ainda como Kamal Nath, da Índia, com ironias.

A falta de transparência no G-4 pode acabar alimentando ainda mais desconfiança nos 146 países que estão fora, em Genebra, aguardando a negociação entre eles. As suspeitas se propagam. Hoje, um grupo de países lançará um comunicado pedindo por mais transparência e também por equilíbrio na negociação. Mas o embaixador da Venezuela, Oscar Carvalho, disse que "de jeito nenhum estamos ameaçando bloquear acordo, apenas insistimos em nossas posições, resumindo outros comunicados de alianças em desenvolvimento".

A Bolívia é mais explícita. O governo de Evo Morales insiste que um acordo na área de serviços tem de explicitar que não haverá privatização de serviços de saneamento básico (água, esgoto), porque senão bloqueia, sim, um entendimento global.

Por sua vez, o grupo de países ACP (África, Caribe e Pacífico) também aumenta o tom, com apoio de organizações não-governamentais. Nesse cenário, restará ao diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, tentar acelerar com os mediadores agrícola e industrial a colocação de suas propostas na mesa nos próximos dias, seja lá qual for o resultado da reunião do G-4. (AM)